Joseph Sollier, Enciclopédia Católica
Jesus, na Última Ceia, atribui ao seu Precioso Sangue o mesmo poder vivificante que corresponde à sua carne. Os Apóstolos São Pedro (I São Pedro I, 2,19), São João (I São João I, 7; Apocalipse I, 5; etc.) e, acima de tudo, São Paulo (Romanos III, 25; Efésios I, 7; Hebreus IX,10) consideram-no como sinônimo da Paixão e Morte de Jesus, a fonte da redenção. O Precioso Sangue é, portanto, uma parte da humanidade sagrada e está hipostaticamente ligado à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
No século XV, alguns teólogos, a fim de determinar se o sangue derramado pelo Salvador durante Sua Paixão permanecia unido ao Verbo ou não, levantaram a questão de se o Precioso Sangue é uma parte essencial ou apenas concomitante da humanidade sagrada. Se fosse uma parte essencial, eles argumentaram, nunca poderia ser separado do Verbo; se fosse apenas concomitante, poderia. Os dominicanos sustentavam a primeira opinião; os franciscanos, a segunda. Pio II, em cuja presença o debate foi realizado, não tomou nenhuma decisão doutrinária sobre o ponto em disputa. No entanto, especialmente desde que o Concílio de Trento, chama-se o Corpo e o Sangue de Jesus de “pars Christi Domini“, ou seja, a tendência do pensamento teológico tem sido a favor do ensino dos dominicanos.
Suarez e Lugo vêem com cautela a opinião dos Franciscanos, e o padre Faber escreveu: “Não é apenas uma carne concomitante, um acidente inseparável do corpo. O próprio Sangue, como sangue, foi assumido diretamente pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade”. O sangue derramado durante a Paixão, portanto, voltou ao Corpo de Cristo na Ressurreição, com a possível exceção de algumas partículas que imediatamente perderam sua união com o Verbo e tornaram-se santas relíquias para serem veneradas. Algumas dessas partículas certamente se aderiram aos instrumentos da Paixão, a saber, os pregos, a coluna de açoites, o Santo Sudário etc. Vários locais como Saintes, Bruges e Mântua reclamam, baseados em antigas tradições, terem relíquias do Precioso Sangue.
Visto como parte da Humanidade Sagrada hipostaticamente unida ao Verbo, o Precioso Sangue merece culto de latria ou adoração. Ele pode também, como o Coração ou os Estigmas de que fluiu, ser escolhido para honra especial, à qual se renderam, desde o início, São Paulo e os Padres, que elogiaram tão eloquentemente sua virtude redentora. Como aponta o padre Faber, as vidas dos santos estão repletas de devoção ao Preciosíssimo Sangue. No devido curso do tempo, a Igreja deu forma e sanção à devoção, através da aprovação de sociedades como as Missionárias do Precioso Sangue; fraternidades enriquecedoras como a de São Nicolau em Cárcere, em Roma, e a do Oratório de Londres, atribuindo indulgências às orações e escapulários em honra do Precioso Sangue, bem como celebrações comemorativas do Precioso Sangue: a sexta-feira seguinte ao quarto domingo da Quaresma e, a partir de Pio IX, o primeiro domingo de julho[1].
[1] Nota dos editores: O Papa São Pio X transferiu a Festa do Preciosíssimo Sangue para uma data fixa, a saber, em 1º de julho.
Bibliografia: BENEDICT XIV, De servorum Dei Beatificatione, II, 30; IV, II, 10, de Festis, I, 8 (Roma, 1747); FABER, The Precious Blood (Baltimore, s.d.); HUNTER, Outlines of Dogm. Theol. (Nueva York, 1896); IOX, Die Reliquien des Kostb. Blutes (Luxemburgo, 1880); BERINGER, Die Ablässe (12da. ed., Paderborn, 1900).
Fonte: Sollier, Joseph. “Precious Blood.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 12. New York: Robert Appleton Company, 1911. <http://www.newadvent.org/cathen/12372c.htm>.
Traduzido por Gustavo Quaranta a partir da versão espanhola disponível em <http://ec.aciprensa.com/wiki/Preciosa_Sangre>.
[Segue abaixo oração por ocasião da Festa do Preciosíssimo Sangue, comemorada em 1º de julho, extraída do Missale Romanum, 1943]
OREMOS Deus onipotente e eterno, que fizestes do vosso Filho o Redentor do mundo, e quisestes ser aplacado com o seu sangue, fazei, Vo-lo suplicamos, que veneremos o penhor da nossa salvação por um culto solene e, por sua virtude, sejamos protegidos na terra contra todos os males da vida presente, de tal sorte que obtenhamos os eternos gozos do Céu. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo. | OREMUS Omnipótens sempitérne Deus, qui unigénitum Filium tuum mundi Redemptórem constituísti, ac ejus Sánguine placári volústi: concéde, quæsumus, salútis nostræ prétium solémni cultu ita venerári, atque a preséntis vitæ malus ejus virtúte deféndi in terris; ut frtuctu perpétuo lætémur in cælis. Per eúmdem Dóminum Nostrum Jesum Christum. |