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Bispo americano retoma Missas públicas em meio a pandemia

Traduzido por Isabel Lisboa a partir do artigo da Agência Angelus News.

O Bispo Peter Baldacchino, da Diocese de Las Cruces, no Novo México, suspendeu a proibição diocesana de celebração pública de Missas, e instruiu os padres a retomar o ministério sacramental desde que sigam as precauções de saúde. Ele é o primeiro bispo dos Estados Unidos a suspender a proibição diocesana desde que a pandemia do Covid-19 atingiu os EUA no último mês.

O bispo anunciou no dia 15 de abril que Missas públicas e os sacramentos em sua diocese — incluindo casamentos e funerais — seriam retomados, mesmo diante da proibição estadual de aglomerações de mais de cinco pessoas em locais fechados.

“Nós somos o serviço essencial de esperança, agora mais do que nunca”, afirma o bispo à Catholic News Agency (CNA), numa entrevista no dia 16 de abril.

Na última quarta-feira, Baldacchino circulou uma carta para todos os bispos de sua diocese, suspendendo a proibição de celebrações públicas e os encorajando a retomar o ministério sacramental.

Em sua carta, o bispo diz que “No pico da pandemia, eu ordenei aos padres da Diocese de Las Cruces que suspendessem todas as Missas públicas enquanto analisássemos a situação e estabelecêssemos um modo seguro de continuar a levar o Cristo à população, tanto através da Palavra de Deus, quanto pelos Sacramentos.”

“Estas últimas semanas me permitiram analisar a situação e discernir um modo seguro de proceder”, escreveu o Bispo. “Tem se tornado cada vez mais claro que o estado de paralização e fechamento irá perdurar por mais algum tempo. Privar os fiéis do alimento espiritual que é a Eucaristia foi uma decisão realmente difícil, mas que enxerguei como necessária até que fosse possível entender toda a situação com clareza, mas esse não pode se tornar um estado permanente pelo tempo vindouro.”

Na entrevista do dia 16, ele complementa: “Você olha à sua volta neste país, e o que se vê? As pessoas estão morrendo dessa doença terrível, mas também de desespero. Há números crescentes de suicídios, crises de vícios, violências domésticas. Este é um momento de escuridão total para muitos.”

“Nós devemos levar a luz de Cristo por essa escuridão. Não podemos nos fechar em nós mesmos; a proximidade neste momento é algo proibido, no entanto, é a isso que nós sacerdotes somos chamados: para estarmos próximos do nosso povo.”

A carta de Baldacchino de 15 de abril também autorizou os padres a distribuírem a Sagrada Comunhão, desde que seguissem normas de saúde específicas, como uso de máscaras, higienização das mãos, luvas e distanciamento entre os fiéis.

No Novo México, está proibida aglomeração de mais de cinco pessoas em locais fechados, e o bispo já alegou seu total desacordo a essa medida.

“Antes de tudo, não quero limitar as igrejas a apenas cinco pessoas. Esta é a decisão do governador de chamar as igrejas de “não essenciais”, e não pude discordar mais. Muitas de nossas igrejas são capazes de abrigar centenas, portanto é possível que recebamos com segurança 20 ou mais pessoas, observando todas as necessidades de distanciamento social. Acredito que o governador está equivocado ao não permitir que as igrejas permitam com segurança mais de cinco pessoas, enquanto o Walmart e a Home Depot podem. Qual destes você acha que é mais essencial? Se temos uma alma, a resposta é clara. O que nós oferecemos não pode ser comprado.”

“Eu quero que os sacerdotes possam ir ao povo — agora não podemos ser encaixotados no prédio da igreja ou em nossos velhos modos de pensar, Cristo está nos chamando a encontrar novas maneiras de anunciar o Evangelho, e não me refiro a online.”

Bispo Peter Baldacchino distribuindo a Sagrada Comunhão aos fiéis no estacionamento da Catedral. (David McNamara/Diocese de Las Cruces)

Baldacchino também autorizou os padres a celebrar a Missa ao ar livre, em conformidade com as orientações estaduais sobre distanciamento social, e recomendou especificamente a instalação de um altar no estacionamento da paróquia, com os paroquianos permanecendo em seus carros com um espaço vazio entre cada veículo.

“Paróquias que não têm vagas suficientes de estacionamento podem celebrar as liturgias em cemitérios abertos ou outros espaços abertos disponíveis. Os paroquianos devem manter pelo menos uma separação de seis pés [n.d.t.: 1,80 m] o tempo todo”, afirma a orientação.

Baldacchino ordenou a construção de um palco do lado de fora da Catedral do Imaculado Coração de Maria e o usou para celebrar as liturgias do Tríduo Pascal. A congregação permaneceu em seus carros, com vagas vazias entre cada veículo, e o bispo distribuiu a Comunhão em cada carro, utilizando máscara e luvas.

“Alguém nos denunciou à polícia estadual”, disse ele à CNA. “Eu fiquei estupefato. Fizemos isso ao ar livre, para a Páscoa, e alguém chama a polícia: o medo que as pessoas estão sentindo agora está muito vivo.”

O bispo disse à CNA que quando a polícia estadual veio abordá-lo sobre as celebrações da Páscoa, eles estavam “pedindo desculpas”.

“Eles vieram, disseram que lamentavam muito perguntar, mas precisavam saber o que havia acontecido. Explicamos tudo e eles disseram: ‘Padre, está tudo bem, não vemos nenhum problema’. ”

O Bispo instruiu aos padres que quem pudesse celebrasse a missa no estacionamento das igrejas, ou que buscassem algum espaço aberto de propriedade das paróquias, o que ocasionou comentários negativos, de que isso acabaria por elitizar as missas, argumento que ele rejeitou totalmente.

“Neste momento temos a opção de nenhuma pessoa, ou de cinco pessoas assistirem à Missa. Façamos o que nos for possível. O objetivo não é excluir ninguém, mas receber o máximo que pudermos.”

“Os pastores sabem muito bem como proceder com prudência — fazer registros online quando o espaço for limitado, assegurar que haja rodízios, começar pelas periferias, receber a todos a tempo. Mas, novamente, o objetivo realmente são as celebrações abertas, que são minha preferência.” (por alcancar mais pessoas).

“O importante é estarmos com o povo; não podemos simplesmente dizer “todos ou ninguém”. Onde há apenas poucos leitos e ventiladores para muitos doentes, acaso nós dizemos “sejamos justos, não demos tratamento a ninguém”? Evidente que não. Como os pães e os peixes, nós compartilhamos o pouco que temos e confiamos que o Senhor multiplicará com Sua graça.”

Em sua segunda entrevista ele também reafirmou sua oposição à medida do Governador, que designou as igrejas como um serviço não essencial.

“As pessoas estão vivendo com medo da morte, do desemprego. Elas estão beirando ao desespero. O que poderia ser mais essencial do que dizermos que estamos com eles, que podemos alimentar suas almas neste momento?” Ele perguntou.

“Eu fiquei muito inspirado pelo Santo Papa, Francisco. Ele falou que medidas drásticas não são sempre boas. Ele abriu as igrejas de Roma — de modo seguro, evidentemente — e nos alertou de que devemos permanecer muito próximos de Nosso Senhor neste momento. Não podemos nos isolar.”

A CNA questionou Baldacchino sobre os riscos inerentes de abrir as igrejas, mesmo para fiéis em quantidade limitada, e sobre autorizar aglomerações em espaços abertos, mesmo que contrarie às normas de distanciamento social.

“Na segunda-feira eu dirigi até o McDonalds de carro — uma pequena confissão aqui. Alguém muito gentil recebeu meu cartão de crédito por uma janela, e outra pessoa diferente trouxe minha comida pela outra — sem máscaras, sem luvas. Alguém diria que devemos fechar o McDonalds porque é um risco? Ou Walmart, ou os postos de gasolina? Claro que não. Nós aceitamos que há certas coisas que nos são necessárias para nossa vida física. Então o risco de tais lugares nunca é questionado, mas mais de cinco pessoas numa igreja é um crime, arriscado demais. Acaso não é a alma que mais importa? Devemos estar loucos.”

“Nossas prioridades foram viradas de ponta-cabeça”, ele diz. “Aqui no Novo México, você pode comprar todo o licor que quiser, pois é essencial e vale a pena correr o risco. Você pode comprar marijuana, pois é essencial e os riscos podem ser tolerados. Mas a Eucaristia — o sumo de nossa vida Cristã, o sacramento de nossa salvação — isso não vale a pena correr o risco, é perigoso demais. Nós assumimos riscos para comprar coisas destrutivas e as chamamos de essenciais, enquanto negamos a nós mesmos o Verdadeiro Remédio. Um Big Mac e Miller Lite, essencial. O Corpo de Cristo, nem tanto.”

A CNA também questionou quanto ao risco de uma contaminação durante as Missas ao ar livre, ao que o bispo respondeu:

“O risco existe, e devemos fazer tudo que pudermos para nos proteger. Temos sido bastante claros: sigam todas as regras de saúde — todas elas. Se você está na linha de risco, permaneça em casa.”

“Mas sempre há algum risco: há risco no supermercado, no posto de combustível, no banco. Mas mantemos todos esses locais abertos porque entendemos que algumas coisas não podem ser fechadas completamente porque são necessidades básicas humanas. Bem, se comida e dinheiro são necessidades básicas, mais ainda são os sacramentos. Tudo se resume a como você enxerga a Igreja Católica. Uma vez que se considera a Igreja essencial, muitos dos “e se” deixam de ser questionados.”

“E para nós enquanto padres — digo “nós” porque fui o primeiro padre desta diocese — nós temos que cuidar de nós mesmos e de nosso povo. Tomarmos todas as precauções, compreender a situação dos fiéis, responder às suas necessidades. Eu suspendi as restrições, eu não ordenei a nenhum padre que faça nada além de seu alcance em sua paróquia, e eu não recomendei nada que eu já não esteja fazendo antes.”

Em sua carta aos padres da diocese, Baldacchino, que foi formado no Seminário Missionário Redemptoris Mater, afiliado ao Caminho Neocatecumenal, em Newark, e passou um tempo como missionário no Caribe, escreveu que perdeu dois amigos íntimos na pandemia.

“Estamos todos cientes da tragédia causada pelo coronavírus, eu mesmo perdi dois amigos íntimos, padres que estudei e com quem servi”, escreveu ele. “Estou plenamente consciente da morte e tristeza que esses dias parecem trazer.” Mas, disse o bispo à CNA, todo sofrimento encontra seu significado na cruz e ressurreição de Cristo, que, segundo ele, define seu próprio ministério como bispo.

“Quando me perguntarem como eu cuidava dessas pessoas que o Senhor me confiou, quero poder dizer que estava com elas, estava entre elas.”

Além de suspender as restrições à celebração pública da Missa, Baldacchino também incentivou os padres da diocese a garantir que os sacramentos da Confissão e Unção estejam disponíveis, dizendo em sua carta aos padres que “os fiéis não devem ser privados deste sacramento, especialmente quando correm o risco de morrer.”

Ele disse à CNA que tem ouvido confissões regularmente fora de sua própria catedral, atrás de uma tela para respeitar o distanciamento social.

“É um momento de grande risco para todos nós, física e espiritualmente, mas como padres somos chamados para esses momentos. Como médicos e enfermeiros, que correm muito risco neste momento, nosso lugar é com os doentes.”

“O Papa Francisco fala da Igreja como um hospital de campo para feridos e doentes. Bem, há muitas pessoas doentes de alma e feridas pelo desespero neste momento, e eu quero montar muitas barracas para tratá-las da melhor maneira possível.”


FONTES:

https://angelusnews.com/news/nation/las-cruces-bishop-explains-resuming-public-masses/

https://angelusnews.com/news/nation/las-cruces-resumes-public-masses-amid-pandemic/