Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Nossa Senhora de Lourdes

Georges Bertrin, Enciclopédia Católica

A cidade de Lourdes está localizada no departamento dos Altos Pirineus, na França, sendo muito famosa pelas peregrinações das quais são o centro e de eventos extraordinários que aconteceram e ainda ocorrem por lá.

HISTÓRIA

As peregrinações a Lourdes começaram com as aparições da Santíssima Virgem a uma pobre menina de 14 anos chamada Bernadette Soubirous. A primeira aparição ocorreu em 11 de fevereiro de 1858. Houve um total de dezoito aparições; a última aconteceu em 16 de julho do mesmo ano. Bernadette muitas vezes caía em êxtase. A visão misteriosa que ela teve na gruta de Massabielle era a de uma jovem muito bonita. “A mais linda que eu já vi”, disse a garota. Mas a menina era a única que tinha a visão, embora às vezes muitos estivessem com ela. Em algumas vezes, a aparição falava à vidente, que era a única que ouvia sua voz. Então, um dia ela disse à menina para beber água de uma fonte misteriosa, da mesma gruta. A existência da fonte era desconhecida e, embora não houvesse vestígios dela, ela imediatamente irrompeu. Em outra ocasião, a Virgem mandou Bernadette dizer aos sacerdotes que queria uma capela ali construída e que as procissões fossem realizadas na gruta. A princípio, o clero ficou incrédulo. Quatro anos depois, em 1862, o bispo da diocese declarou aos fiéis: “justificar a crença da realidade da aparição”. Uma basílica foi construída sobre a rocha de Massabielle por M. Peyramale, o sacerdote da paróquia. Em 1873 foram inauguradas as grandes peregrinações francesas “nacionais”. Três anos depois, a basílica foi consagrada e a estátua foi solenemente coroada. Em 1883, a pedra fundamental de outra igreja foi colocada, uma vez que a primeira não era grande o suficiente. Foi construída ao pé da basílica e consagrada em 1901 com o nome de Igreja do Rosário. O Papa Leão XIII autorizou um ofício especial e uma missa em comemoração à aparição; em 1907, São Pio X estendeu a observância desta festa a toda a Igreja; atualmente, é comemorada em 11 de fevereiro.

Nunca antes um santuário tinha atraído tamanhas multidões. No final do ano de 1908, quando a 50ª aparição foi celebrada, embora o registro de contagem tenha começado em 1867, cerca de 5.297 peregrinações foram registradas, trazendo consigo 4.919.000 peregrinos. Os peregrinos individuais são mais numerosos do que os que vieram em grupos. A este número devem ser adicionados visitantes que não vêm como peregrinos, mas que foram atraídos por um sentimento religioso ou por vezes pelo desejo de conhecer esse local tão famoso. A Companhia de Estradas de Ferro do Sul da França (Compagnie des Chemins de fer du Midi) estima que a estação de Lourdes recebe mais de um milhão de viajantes por ano. Cada nação do mundo fornece sua cota. Do total dos peregrinos mencionados acima, 464 vêm de países que não a França. Eles são dos Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Áustria, Hungria, Espanha, Portugal, Itália, Inglaterra, Irlanda, Canadá, Brasil, Bolívia, etc. Os bispos guiam o caminho. No final do ano do 50º aniversário, 2013 prelados, incluindo 546 arcebispos, 10 primazes, 19 patriarcas, 69 cardeais, fizeram a peregrinação a Lourdes. Mas ainda mais incrível do que a multidão de peregrinos é a série de eventos maravilhosos que ocorreram sob a proteção do célebre santuário. Além das curas espirituais, que não devem passar despercebidas pela observância humana, devemos levar em conta a cura para doenças físicas. O autor deste artigo registrou cada recuperação, parcial ou total, e no primeiro meio século de existência do santuário contaram-se 3.962. Não obstante haver estatísticas muito cuidadosas, que  dão os nomes e sobrenomes dos pacientes que foram curados, a data da cura, o nome da doença e geralmente o do médico que estava à frente do caso, há inevitavelmente casos duvidosos ou errôneos, atribuíveis, via de regra, à excitada imaginação dos afetados, que em curto prazo foram descartados. Entretanto, é correto notar que: primeiro, tais erros inevitáveis referem-se apenas a casos secundários que não serviram de base para estudos especiais; também deve-se notar que o número de casos é igualado ou excedido por curas reais que não foram registradas. As pessoas afetadas que se recuperaram não são obrigadas a comparecer ou se registrar, e metade delas não o fazem, e é do escritório de registros médicos oficiais de Lourdes (Bureau des Constatations Médicales), que a lista de curas é feita.

Estima-se que aproximadamente 4.000 curas tenham sido obtidas em Lourdes nos primeiros cinquenta anos das peregrinações, e este é, sem dúvida, um número consideravelmente menor do que o real. O Bureau des Constatations está localizado perto do santuário, e lá registrados e verificados os certificados de doença e os de cura; é gratuito para todos os médicos, independentemente de sua nacionalidade ou crença religiosa. Consequentemente, em média, entre duzentos e trezentos médicos visitam essa maravilhosa clínica anualmente. No que diz respeito à natureza das doenças que foram curadas, os distúrbios nervosos, tão frequentemente mencionados, não cobrem nem a décima quarta parte de todas as curas. 278 foram contadas, de um total de 3.962. O presente autor publicou o número de casos de cada doença, incluindo tuberculose, tumores, feridas, câncer, surdez, cegueira, etc. Os “Annales des Sciences Physiques“, uma revista cética cujo editor é o professor Ch. Richet, da Faculdade de Medicina de Paris, disse no decorrer de um extenso artigo sobre esse estudo: “Ao lê-los, as mentes sem preconceito  não podem senão estar convencidas de que os fatos mencionados são autênticos “.

SUA CAUSA

Não existem causas naturais capazes de produzir as curas que foram testemunhadas em Lourdes que dispensam uma mente sem preconceitos de remontá-las à particular ação de Deus. Aqueles que se recusam a acreditar em uma intervenção milagrosa, buscam primeiro uma explicação científica das ocorrências casos na composição química da água na caverna. Mas mais tarde foi oficialmente declarado por um eminente químico designado para realizar análises de água, e suas conclusões foram corroboradas, que a água não contém propriedades curativas naturais. Então os incrédulos disseram que talvez a água opere por meio de sua temperatura, ou que os resultados obtidos em Lourdes possam ser realizados por meio de banhos em água fria. No entanto, todos sabem que a hidroterapia é praticada em outros lugares do que em Lourdes, e que ela não faz os milagres de curar todos os tipos de doenças, desde câncer até problemas que causam cegueira. Além disso, muitos afetados foram curados sem terem sido imersos nos tanques da gruta, e isso resolve a questão. Todavia, aqueles que negam a intervenção sobrenatural atribuem os maravilhosos resultados vistos em Lourdes a duas outras causas. A primeira é a auto-sugestão. A isto respondemos sem hesitação que a auto-sugestão é radicalmente incapaz de satisfazer aqueles que esperam por uma explicação. Com exceção de doenças nervosas ou funcionais, já que são a minoria dos casos registrados de cura no Departamento Médico da gruta, além de o fato que procuramos estabelecer agora não exigir que tais casos sejam levados em conta, devemos concentrar nossa atenção nas doenças orgânicas. A auto-sugestão pode ser aplicada eficazmente em doenças dessa natureza? O mais estudado e ousado dos sugestionistas de hoje, Bernheim, um judeu, reitor da famosa escola de Nancy, o rival mais próspero da Ecole de la Salpétrière, responde negativamente em vinte passagens do livro em que ele registrou os resultados de suas observações: “Hypnotisme, Suggestion, Psychotherapie” (Paris, 1903, 2a edição). Estudando seu trabalho, também descobrimos que nos casos de a auto-sugestão tem alguma possibilidade de sucesso, como certas doenças funcionais, ela requer a cooperação do tempo, curando lenta e progressivamente, enquanto as curas completas em Lourdes são instantâneas. Portanto, as curas de auto-sugestão não são uma explicação válida. A auto-sugestão não opera em Lourdes; a causa curativa age de maneira diferente e infinitamente é mais poderosa.

Há um último recurso, que é o de apelar para certas leis desconhecidas ao dizer, por exemplo: “Como sabemos que algumas forças naturais das quais ainda somos ignorantes não operam as curas maravilhosas que são diretamente atribuídas a Deus?” Como sabemos? Em primeiro lugar, se existe uma lei dessa natureza, os peregrinos de Lourdes não teriam consciência disso mais do que o resto da humanidade; e eles também não saberiam como realizá-lo. Por que essa lei funcionaria para eles e não para os outros? É porque negam sua existência e os outros acreditam nela? Além disso, não só não existe, mas não pode existir e, como consequência, nunca existirá, uma lei natural que instantaneamente produz a regeneração do tecido lesionado, isto é, cura uma doença orgânica. Por quê? Porque qualquer crescimento e, consequentemente, qualquer restauração do tecido de um organismo é conseguido – e isso é um fato científico – pelo aumento e crescimento do protoplasma e células que compõem qualquer corpo vivo. Todo o protoplasma existente vem de algum outro protoplasma ou de um anterior, e este e de algum outro anterior e assim por diante, desde o começo; essa regeneração (o fato é auto-evidente) é necessariamente sucessiva, isto é, exige a cooperação do tempo. Portanto, para que uma força natural seja capaz de operar uma cura súbita em uma doença orgânica, a base essencial da vida tal como se encontra na presente criação teria de ser invalidada; a natureza como a conhecemos teria de ser destruída e outra criada em um plano diferente. Portanto, a hipótese de forças desconhecidas da natureza não pode prosperar para explicar as curas instantâneas em Lourdes. É logicamente inaceitável. Na verdade, não existe uma causa natural, conhecida ou desconhecida, é suficiente para explicar as maravilhosas curas testemunhadas ao pé da famosa rocha onde a Virgem Imaculada decidiu aparecer. Elas só podem vir pela intervenção de Deus.


BIBLIOGRAFIA:

LASSERRE, Notre-Dame de Lourdes; BOISSARIE, L’oeuvre de Lourdes; BERTRIN, Histoire critique des événements de Lourdes, apparitions et guérisons (Paris, 1909), tr. GIBBS; IDEM, Un miracle d’aujourd’hui avec une radiographie (Paris, 1909).

FONTE: Bertrin, Georges. “Notre-Dame de Lourdes.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 9. New York: Robert Appleton Company, 1910. 10 Feb. 2019 <http://www.newadvent.org/cathen/09389b.htm>.

Traduzido por Leonardo Brum a partir da versão espanhola disponível em <https://ec.aciprensa.com/wiki/Nuestra_Señora_de_Lourdes>.


[Segue abaixo oração por ocasião da Festa da Aparição de Nossa Senhora de Lourdes, a 11 de fevereiro, extraída do Missale Romanum, 1943]

OREMOS

Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria, preparastes para o vosso Filho uma morada digna d’Ele, dignai-Vos fazer com que, celebrando a sua Aparição, alcancemos a saúde da mente e a do corpo. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo.
OREMUS

Deus, qui per immaculátam Vírginis Conceptiónem dignum Filio tuo habitáculum præparásti: súpplices a te quæsumus; ut ejúsdem Vírginis Apparitiónem celebrántes, salútem mentis et córporis consquámur. Per eúmdem Dóminum Nostrum Jesum Christum.