XII Centenário
da Morte de São Bonifácio,
Bispo e Mártir
Carta Encíclica do Sumo Pontífice Pio XII
CARTA ENCÍCLICA
Aos nossos veneráveis irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e demais ordinários locais da Inglaterra, Alemanha, Áustria, Bélgica e Holanda, em paz e união com a Sé Apostólica.
Veneráveis Irmãos:
Saudação e Benção Apostólica.
I. Introdução
1. É muito conveniente e oportuno não só recordar mas também comemorar com cerimônias públicas os fastos da Igreja, que mostram bem como na sociedade fundada por Jesus Cristo não houve nenhum século estéril em santidade; além disso, se os belos exemplos de virtude que brilham nesses fastos são devidamente propostos aos fiéis, os espíritos entusiasmam-se naturalmente e dispõem-se a imitá-los segundo as próprias forças.
2. Por isso, com grande prazer soubemos que o décimo-segundo centenário do martírio de s. Bonifácio e da sua passagem à celeste pátria será, este ano, comemorado com alegres manifestações e públicas ações de graças, especialmente nos países que têm razão especial de se mostrar agradecidos ao membro tão glorioso da ordem beneditina.
3. Mas se os vossos países têm razões para venerar esse varão insigne em santidade e para recordar nesta feliz ocorrência os seus brilhantes feitos, muito mais razão tem ainda esta Sé Apostólica, que o viu, ao término de viagens longas e difíceis, entrar três vezes em Roma como peregrino, ajoelhar devotamente diante do túmulo do príncipe dos apóstolos e, como filho obedientíssimo, solicitar dos nossos predecessores o mandato apostólico para levar a nações longínquas e bárbaras o nome do divino Redentor e os princípios da cultura e da civilização cristã.
4. De origem anglo-saxônica, sentiu desde a juventude forte chamamento do alto para deixar o patrimônio e os prazeres do mundo e se recolher à segura defesa dos muros dum claustro, a fim de se entregar mais facilmente à contemplação e viver em plena conformidade com os preceitos evangélicos. Fez então tais progressos não só nas letras humanas e nas ciências sagradas, mas também nas virtudes cristãs, que veio a ser eleito abade do mosteiro. Mas, dotado de ânimo para mais altas empresas, há muito desejava partir para terras estrangeiras, entre povos bárbaros para iluminá-los com a luz do evangelho e ensinar-lhes a lei cristã. Nada o deteve, nada o conseguiu impedir: nem o abandono da pátria amada, nem viagens longas e difíceis, nem mesmo os perigos de toda a espécie a que se expunha entre povos desconhecidos. Havia na sua alma de apóstolo tal veemência, ardor e tenacidade que não podia deixar-se prender por vistas ou laços humanos.
II. A Vida de São Bonifácio
5. A Grã-Bretanha, após árduas dificuldades, tinha sido trazida à religião cristã uns cem anos antes pelo nosso predecessor de imortal memória são Gregório Magno, que para lá mandara um valoroso grupo da família beneditina, chefiado por santo Agostinho. De admirar é que já nesse tempo estivesse tão firme na fé e tão abrasada na caridade como o rio saído do leito rega as terras vizinhas e as fertiliza. Assim esse país pôde mandar generosamente muitos dos seus melhores filhos a outras terras para as conduzir a Jesus Cristo e as unir estreitamente ao seu vigário na terra. Procedendo, assim, agradecia a Deus, os benefícios da religião católica, da civilização e da cultura cristã.
6. Entre esses missionários sobressai por ardor apostólico, fortaleza de alma e doçura de caráter, Winfrido, que depois foi chamado Bonifácio pelo papa são Gregório II. Com os companheiros, poucos por certo em número mas muito virtuosos, tomou sobre si o cargo de evangelizar, por que há muito ansiava; e embarcando na Grã Bretanha, chegou às costas da Frísia. Encontrando porém forte resistência no tirano da região, os esforços que fizeram mostraram-se vãos, depois de tentativas sem resultado, tiveram de voltar à pátria.
A. O Apóstolo da Frísia e da Germânia
7. Não desanimou ainda assim Bonifácio e pouco depois quis vir a Roma, à Sé Apostólica, pedir humildemente ao vigário de Cristo um mandato, para com ele e com a ajuda da divina graça poder mais facilmente realizar o ideal de há muito sonhado. E, depois “de chegar felizmente ao limiar da Sé de Pedro”(1) e de venerar com suma piedade o sepulcro do príncipe dos apóstolos, pediu audiência ao nosso predecessor de feliz memória, Gregório II.
8. Com muita alegria o recebeu o papa, a quem ele “manifestou pormenorizadamente a razão da sua viagem e explicou o desejo em que mais se tinha empenhado. O santo padre, olhando para ele alegre e carinhosamente”,(2) animou-o, incitou-o a empreender confiante a louvável empresa, e muniu-o para ela de cartas suas e de autoridade apostólica.
9. Pareceu-lhe que o mandato do vigário de Jesus Cristo lhe conciliava as graças de Deus, que não devia por isso temer dificuldades que lhe viessem dos homens ou das circunstâncias, e que poderia realizar com fruto o seu velho plano. Com tais pensamentos, percorreu como operário apostólico várias regiões da Germânia e da Frísia: onde não havia vestígio de vida cristã, mas tudo eram costumes selvagens e bárbaros, semeou ele com mão generosa a semente do evangelho, e fecundou-a com incríveis trabalhos e com o suor próprio e dos seus. Onde, pelo contrário, as comunidades cristãs ou não tinham legítimo pastor e jaziam em miserável abandono e decadência, ou se conservavam longe da genuína fé e dos bons costumes por causa de sacerdotes corruptos e ignorantes, trabalhou ele como reformador prudente e tenaz da vida privada e pública, como operário hábil e incansável, como diligentíssimo impulsionador e restaurador de todas as virtudes.
10. Os bons êxitos de Bonifácio chegaram aos ouvidos do nosso predecessor Gregório II, que o chamou a Roma e, ainda que ele por humildade resistisse, “fez-lhe saber… que lhe queria conferir a dignidade episcopal, para poder assim corrigir os extraviados e reconduzi-los ao verdadeiro caminho com tanto mais constância, quanto maior autoridade tivesse, vinda da dignidade apostólica; e seria tanto mais aceito a todos no ofício de pregar, quanto mais vissem que tinha sido sagrado bispo para esse fim pelo próprio papa”.(3)
11. Como “bispo regional” sagrado pelo mesmo sumo pontífice, volta às vastíssimas regiões a ele confiadas, com a nova dignidade e autoridade, entrega-se aos trabalhos apostólicos com zelo ainda maior.
12. Por causa da sua eminente virtude e ardente zelo de dilatar o reino de Cristo, foi muito amado desse papa e de seus sucessores: isto é, de são Gregório III, que pelos notabilíssimos méritos o nomeou arcebispo e lhe conferiu o pálio, dando-lhe também o poder de constituir legitimamente ou reformar a hierarquia eclesiástica naquelas regiões e de sagrar novos bispos, “para derramarem a luz entre o povo germânico”;(4) foi também muito estimado por são Zacarias; que o confirmou na sua missão com cartas repletas de afeto e lhe teceu os maiores louvores;(5) finalmente por Estêvão III, a quem pouco depois da eleição dirigiu uma carta respeitosíssima, quando já se aproximava do fim desta vida mortal.(6)
B. Uma nova era para o povo germânico
13. Apoiado na autoridade e benevolência desses papas e com zelo sempre crescente, percorreu Bonifácio, durante todo o seu ministério, regiões imensas, ainda mergulhadas nas trevas do erro; iluminou-as com a luz da verdade evangélica; e não se poupou a trabalhos para que brilhasse nelas nova era de civilização cristã. A Frísia, a Saxônia, a Austrália, a Turíngia, a Francônia, a Hássia e a Baviera tiveram nele semeador infatigável da palavra divina, pai da nova vida que vem de Jesus Cristo e se alimenta com a sua graça. Desejava muito chegar também àquela “antiga Saxônia”,(7) de que julgava serem originários os seus avós, mas não pôde realizar esse desejo.
14. Para empreender, continuar e levar a bom fim esse trabalho ingente, pediu ajuda de novos colaboradores e até de colaboradoras, quer dizer de religiosas. Entre todas brilhou Lioba pela perfeição da vida evangélica. Dos mosteiros beneditinos da sua pátria – então florescentes em doutrina, fé e caridade – recebeu essas ajudas voluntárias e preciosíssimas. Nem faltaram, nas mesmas terras agora evangelizadas, recém-convertidos tão fervorosos e ardentes, que procuravam segundo as próprias forças ser também apóstolos. Assim, apoiado na autoridade dos papas, como dissemos, “Bonifácio começou, como novo arquimandrita, a lançar semente divina e extirpar a diabólica, a educar igrejas e mosteiros, e a confiar essas igrejas a pastores prudentes”,(8) o estado dessas regiões foi mudando pouco a pouco. Grandes multidões de homens e mulheres vinham ouvir as pregações deste varão apostólico, comoviam-se com as suas palavras, deixavam velhas superstições, inflamavam-se em devoção ao divino Redentor, à sua doutrina suavíssima acomodavam os costumes bárbaros e corruptos, purificavam-se nas águas do batismo e começavam vida completamente nova. Não só se construíram mosteiros de monges ou religiosas, que se tornaram sede de culto divino e também de civilização, letras, ciências e artes; mas foram também desbastadas ou destruídas matas impenetráveis, inexploradas e tenebrosas, e conquistaram-se para o bem comum terras de cultivo; começaram também a levantar-se habitações, que no decorrer do tempo haviam de formar populosas cidades.
15. A indômita nação germânica que na sua grande ânsia de liberdade, nunca se quisera sujeitar a ninguém, nem chegara a ser subjugada de maneira estável pelos romanos apesar da força das armas, era agora percorrida por indefesos pregoeiros do evangelho, ouvia-os, e inclinava a fronte. A beleza e a verdade da nova doutrina penetra os espíritos, comove-os e atrai-os; e estes vêm afinal a sujeitar-se espontaneamente ao suavíssimo jugo de Cristo.
16. Por obra de são Bonifácio, brilhou sem dúvida uma era nova para o povo germânico; nova não só religiosamente mas também quanto à civilização. Por isso deve considerá-lo e venerá-lo como pai, mostrar-lhe sempre agradecimento e seguir cuidadosamente os belos exemplos de todas as suas virtudes. “Não só a Deus todo-poderoso se chama pai quanto ao espírito, mas também a todos aqueles que nos ensinam com doutrina e exemplos a conhecer a verdade, e nos incitam a seguir com perseverança a religião… Ao santo bispo Bonifácio se pode chamar pai de todos os habitantes da Germânia, porque os gerou para Cristo com a palavra da santa pregação, os criou com os seus exemplos, e, finalmente, veio a dar por eles a vida, o que é a maior caridade que se pode mostrar”.(9)
C. O mosteiro de Fulda
17. Entre os numerosos mosteiros, que mandou edificar naquelas regiões, está sem dúvida em primeiro lugar o de Fulda, que foi para os povos como farol, que indica aos navios o caminho sobre as ondas do mar. De fato, constituiu uma espécie de nova cidade de Deus, na qual inúmeras gerações de monges aprenderam as ciências humanas e divinas, e se prepararam para os futuros combates pacíficos com a oração e contemplação; donde, como enxames de abelhas, depois de sugarem nos livros sagrados e profanos o mel da sabedoria, partiram para várias terras a levá-lo desinteressadamente aos outros. Não desconheceram nenhuma ciência ou arte liberal. Procuraram-se velhos códices, para serem fielmente copiados, iluminados com arte e comentados com rigor, de maneira que se pode afirmar sem erro que a ciência sagrada e profana, que hoje tanto honra a nação germânica, teve em Fulda o seu venerando berço
18. Além disso partiram dessa casa inúmeros monges beneditinos, os quais – com a cruz e o arado, isto é, com a oração e o trabalho – levaram a luz do cristianismo e a cultura da civilização a terras ainda mergulhadas nas trevas. Com esse trabalho aturado e indefesso, as florestas – imensos domínios das feras, quase impenetráveis ao homem – tornaram-se férteis e transformaram-se em campos cultivados; e esses povos, ainda separados entre si e dados a costumes selvagens, formaram com o andar do tempo uma só nação, amansada pela brandura e força do evangelho, e muito notável pelas virtudes cristãs e cívicas.
19. Mais que tudo, porém, foi o mosteiro de Fulda casa de oração e contemplação; os monges, antes de se entregarem à difícil evangelização dos povos, procuravam alcançar grande santidade pela oração, penitência e trabalho. E o próprio Bonifácio, sempre que podia descansar um pouco das labutas apostólicas, era lá que preferia recolher-se, para dar têmpera e vigor ao espírito com meditações e oração prolongada. “É… lugar selvagem – assim escrevia ele ao nosso predecessor Zacarias de santa memória – no ermo duma vastíssima quietude, em meio dos povos confiados à nossa pregação. Ao construirmos o mosteiro, pusemos nele monges que vivem segundo a regra do patriarca s. Bento, em estrita observância, sem comerem carne nem beberem vinho ou cerveja, e sem terem criados, contentando-se com o trabalho das próprias mãos… Nesse lugar, com o consentimento de vossa santidade, tenho intenção de restabelecer, com um pouco de descanso, o corpo alquebrado pela velhice, e jazer depois da morte. Porque se sabe que habitam à volta daqui quatro povos, aos quais, ajudados com a graça de Deus, anunciamos a doutrina de Cristo; a eles, enquanto estiver vivo ou válido, poderei ser útil, com a vossa intercessão. Desejo de fato, por meio das vossas orações e com a graça de Deus, perseverar na comunhão com a Igreja Romana e no vosso serviço entre os povos germânicos, a que fui enviado, e obedecer à vossa ordem”.(10)
20. Foi sobretudo no silêncio desse mosteiro que alcançou de Deus a força sobrenatural com que partia repleto de ânimo a travar novos combates; e com ela conseguiu trazer ao redil de Cristo tanta gente da Germânia ou fortalecê-la na fé já recebida, e não raro levá-la mesmo à perfeição da vida evangélica.
D. A restauração da Igreja da Gália
21. Mas ainda que Bonifácio seja de modo especial apóstolo da Germânia, o zelo que ardia em dilatar o reino de Deus não se limitou às fronteiras desse pais. A Gália, já desde a idade apostólica, tinha abraçado a fé com grande prontidão, e consagrara-a com o sangue de inúmeros mártires. Constituído o império dos Francos, escrevera essa Igreja, nos fastos do cristianismo, páginas dignas do maior louvor. Mas encontrava-se depois muito necessitada de emenda nos costumes e requeria o restabelecimento e reforma da vida cristã. Não poucas dioceses estavam sem bispos ou confiadas a pastores indignos; em alguns lugares perturbavam os espíritos superstições de toda a espécie, heresias e cismas; por grande negligência, há muito que não eram celebrados concílios, necessariíssimos para a defesa da integridade da religião, restabelecimento da disciplina do clero e reforma dos costumes públicos e privados; os ministros sagrados não estavam muitas vezes à altura da dignidade; e o povo jazia não raro em grande ignorância religiosa e corrupção. Chegando aos ouvidos de são Bonifácio este triste estado de coisas, e vendo ele o perigo que ameaçava a ilustre Igreja dos Francos, logo tratou com o maior zelo de lhe aplicar remédio radical.
22. Todavia, entre tão grandes dificuldades sentiu de novo que precisava da autoridade da Sé Apostólica;(11) sustentado por ela, na qualidade de legado do papa,(12) trabalhou quase cinco anos com o maior afinco e prudência para reconduzir ao antigo esplendor a Igreja dos Francos. “…Então, com a ajuda de Deus e por sugestão do arcebispo Bonifácio, foi confirmada a herança de religião cristã, foram revistas entre os Francos as constituições sinodais dos padres ortodoxos, e todas as instituições foram emendadas e ajustadas aos cânones”.(13) Para isto, por iniciativa de Bonifácio, foram celebrados quatro concílios,(14) e o quarto abrangeu todo o império dos Francos; restaurou-se a hierarquia eclesiástica; escolheram-se bispos dignos e foram colocados nas próprias sedes; restabeleceu-se e reformou-se quanto possível a disciplina do clero; defendeu-se a autoridade dos sagrados cânones; emendaram-se diligentemente os costumes do povo; as superstições foram proibidas (15) e as heresias reprovadas e condenadas;(16) por último, pôs-se feliz termo aos cismas. Assim, com grande alegria de Bonifácio e de todos os bons, a Igreja dos Francos floresceu e brilhou com novo esplendor; foram extintos ou pelo menos diminuídos os vícios; restituiu-se o apreço às virtudes cristãs; e a necessária união com o Papa fortaleceu-se com laços mais apertados, as atas, já solenemente aprovadas pelos padres do concílio geral de todo o império dos Francos, enviaram-se a Roma ao sumo pontífice, como magnífica prova da fé católica dos pastores e dos féis, e para serem colocadas junto do sepulcro do príncipe dos apóstolos, em sinal de veneração, devoção filial e unidade.(17)
E. O martírio
23. Desempenhando com a ajuda de Deus esse cargo de grande responsabilidade, não se deu Bonifácio a um descanso merecido. Mesmo sobrecarregado de cuidados, com o peso dos anos e a saúde abalada por tantas fadigas, preparou-se com ânimo para nova empresa, não menos árdua. Outra vez dirigiu o olhar e o pensamento para a Frísia, essa Frísia que fora a primeira meta das suas viagens apostólicas e o campo de tantos trabalhos posteriores. Mantinha-se ela, sobretudo na parte norte, envolta ainda nas trevas do paganismo; para aí se encaminhou agora de novo com ânimo juvenil, para dar novos filhos a Jesus Cristo e continuar a conquistar povos para a civilização cristã. Ardia no desejo “de, no termo da vida, receber a paga onde inaugurara no princípio o trabalho da pregação e começara a reunir títulos para o prêmio eterno”.(18) Parecia agora adivinhar o fim próximo ao escrever ao discípulo predileto, o bispo Lulo, e mostrava ao mesmo tempo que não queria esperar a morte na ociosidade: “Desejo realizar o propósito desta viagem; não posso de maneira nenhuma renunciar ao desejo de partir, está próximo o dia do meu fim e avizinha-se o tempo da minha morte; deixando o corpo mortal, subirei ao eterno prêmio. Mas tu, filho caríssimo…, chama sem descanso o povo do abismo do erro, termina a construção da basílica já começada de Fulda e nela depõe o meu corpo envelhecido por longos anos de vida”(19).
24. Despedindo-se com lágrimas dos seus, com um pequeno número de companheiros “percorreu toda a Frísia, aboliu os ritos pagãos, exterminou os maus costumes do gentilismo, e pregou incansavelmente em toda a parte a palavra de Deus; com grande cuidado construiu Igrejas, destruídos os ídolos dos templos pagãos. Batizou vários milhares de homens, mulheres e crianças”.(20) Mas na parte setentrional da Frísia, quando ia conferir o sacramento da confirmação a muitos neófitos, lançou-se contra eles de improviso uma horda furiosa de pagãos, ameaçando-os de morte com lanças e espadas. O santo bispo, avançando muito sereno, “não deixou que os seus combatessem, dizendo: ‘Deixai, filhos, o combate e abandonai a guerra, porque o testemunho da Escritura nos ensina que não devemos dar o mal pelo mal, mas o bem pelo mal’. É este o dia há tanto tempo desejado, chegou o tempo do nosso fim; tende coragem no Senhor. Sede fortes, não vos deixeis aterrar por aqueles que matam o corpo, mas não podem matar o espírito imortal; alegrai-vos no Senhor e fixai a âncora da vossa esperança em Deus, que depressa vos dará a paga do prêmio eterno e um lugar no reino celeste com os cidadãos do céu, que são os Anjos”.(21) Animados para o martírio com essas palavras, voltaram todos, suplicantes, o espírito e os olhos para o céu, esperando receber em breve o prêmio eterno. Suportaram o ímpeto dos inimigos, que ensangüentaram aqueles corpos “com um feliz morticínio de santos”.(22) E Bonifácio, no momento do martírio, “quando estava para ser ferido com a espada, pôs sobre a cabeça o volume do sagrado evangelho para receber nele o golpe do algoz e ter na morte a defesa daquele livro, cuja leitura amara em vida”.(23)
25. Com essa morte gloriosa, que lhe abria seguro o caminho para a eterna bem-aventurança, terminou são Bonifácio o curso da vida, toda dedicada à glória e à salvação do próximo. Os seus despojos finalmente “foram levados para onde ele indicara em vida”,(24) isto é, para o mosteiro de Fulda, onde os discípulos, entre salmos e lágrimas, lhe deram digna sepultura. Para esse túmulo olharam, e olham ainda hoje com veneração, multidões inúmeras, porque parece que Bonifácio ainda fala àqueles cujos avós ganhou para Jesus Cristo e introduziu na vida e civilização cristã; fala, digamos assim, com o ardor da caridade e piedade, a invicta fortaleza do ânimo, a integridade da fé, o zelo indefesso até ao fim da vida, com o seu apostolado e a sua morte enobrecida com a palma do martírio.
26. Logo que ele voou desta vida mortal para o céu, começaram todos a exaltar-lhe a santidade e a venerá-lo em particular e em público. Tão depressa se estendeu a fama da sua santidade que na Inglaterra, pouco depois do martírio, já Cutberto, arcebispo de Cantuária, escrevia: “Este varão não só o consideramos amorosamente, mas veneramo-lo também com louvor entre os egrégios e maiores doutores da fé ortodoxa. Por isso no nosso sínodo geral…, introduzimos o dia natalício dele e dos que sofreram juntamente o martírio, e decretamos celebrar-lhes solenemente a festa todos os anos”.(25) O mesmo fizeram, desde a antiguidade e com igual ardor, a Alemanha, a França e outras nações.(26)
III. Os Exemplos de São Bonifácio
A. Sua confiança na graça divina
27. Onde, veneráveis irmãos, encontrou são Bonifácio a incansável energia e aquela invicta fortaleza de ânimo com que pôde afrontar tantas dificuldades, sujeitar-se a tantos trabalhos, expor-se a tantos perigos, e combater até à morte pela dilatação do reino de Jesus Cristo conquistando a coroa do martírio? Na graça de Deus que ele implorava com humilde, contínua e intensa oração. Vivia tão inflamado do amor de Deus, que só desejava unir-se a ele cada vez mais, tratar com ele o mais possível, propagar a sua glória mesmo entre povos desconhecidos e levar-lhe – em ato de veneração, de obséquio e de amor o maior número de homens. Podia com razão aplicar a si e repetir aquelas palavras de s. Paulo: “O amor de Cristo nos constrange”.(27) E também estas: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angustia? A nudez? O perigo? A perseguição? A espada?… Eu estou certo de que nem a morte nem a vida:.. nem o presente nem o futuro, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Jesus Cristo nosso Senhor”.(28)
28. Sempre que essa divina caridade invade os espíritos, os informa e os estimula, bem podem apropriar-se os homens das palavras de são Paulo: “Tudo posso naquele que me conforta”;(29) por isso nada pode resistir ou opor-se aos seus esforços e fadigas, como a história da Igreja ensina. Repete-se, então, de modo admirável o que aconteceu no tempo dos apóstolos: “…Por toda a terra se difundiu a fama deles e as suas palavras chegaram aos confins do mundo”.(30) São esses novos propagadores do evangelho de Cristo animados de tal força sobrenatural, que só podem ser detidos com cadeias nos braços – o que ainda hoje vemos acontecer com grande tristeza. Nada os pode deter senão a morte, morte todavia adornada com a palma do martírio que sempre comove grandes multidões e faz surgir novos seguidores do divino Redentor, como aconteceu nos tempos de s. Bonifácio.
29. Com orações pedia ele instantemente que as suas iniciativas produzissem abundantes frutos. E quanta era a confiança que depositava na divina graça, bem se vê das cartas em que pedia sem interrupção ao Papa, (31) aos amigos notáveis por santidade e às religiosas das comunidades – por ele ou fundadas ou impregnadas do ideal de perfeição evangélica – para que com as suas orações lhe quisessem obter do céu conforto e ajuda. Apraz-nos citar como exemplo o que escreveu “às veneráveis e amadíssimas irmãs Leobgita, Tecla e Cineilda”: “Peço-vos, e até vos mando, como filhas caríssimas, que rezeis a Deus com as vossas incessantes orações, como aliás confiamos que o fazeis, fizestes e fareis sem interrupção… E ficai sabendo que nós louvamos ao Senhor, e se dilataram as tribulações do nosso coração; pedi para que o Senhor Deus, que é refúgio dos pobres e esperança dos humildes, nos livre das nossas dificuldades e das tentações desta triste vida, para que a palavra de Deus se difunda e o glorioso Evangelho de Cristo se torne conhecido, a fim de a graça de Deus em mim não seja vã. E como sou o último e o pior que a Igreja católica e apostólica romana destinou para pregar o Evangelho, rogai para que eu não morra inútil, sem fruto algum do Evangelho”.(32)
B. Sua estreita união com a Igreja romana
30. Essas palavras não só mostram zelo pela difusão do reino de Jesus Cristo, zelo que ele fortificava com a contínua oração sua e alheia, mas realçam também a humildade cristã, e a total dedicação e união à Igreja apostólica romana. Esse intenso devotamento e união estreitíssima conservou ele cuidadosa e fervorosamente por toda a vida, sendo possível dizer que não foi outro o inabalável fundamento do seu trabalho apostólico.
31. Ainda que tenhamos já aludido às suas piedosas peregrinações ao sepulcro de são Pedro e à sé do vigário de Jesus Cristo, queremos agora falar delas mais extensamente para que fique bem claro o seu empenho de obediência e acatamento para com os nossos predecessores, e do mesmo modo brilhe o grande afeto que lhe tinham os romanos pontífices.
32. A primeira vez que veio a esta augusta cidade para receber do papa s. Gregório II o mandato de pregar a palavra divina, esse nosso predecessor, apenas o conheceu, logo lhe deu a aprovação e o louvou, escrevendo-lhe depois paternalmente estas palavras: “O religioso propósito que nos manifestaste, cheio de amor a Cristo, e as provas que nos foram dadas da tua sincera fé, exigem que nós te consideremos como colaborador na pregação da palavra divina, que por graça de Deus nos está entregue… Alegramo-nos com a tua fé e queremos ajudar-te naquilo que nos pediste…; por isso – em nome da indivisível Trindade, pela autoridade inconcussa do bem-aventurado Pedro, príncipe dos apóstolos, de cujo magistério participamos por (divina) vontade e cujas vezes fazemos nesta sagrada sé – investimos a tua modesta pessoa de missão religiosa e ordenamos que; na palavra da graça divina, proclames, com a persuasão da verdade, o reino de Deus através do nome de Cristo, Senhor e Deus nosso, a todos os povos dominados pelo erro da infidelidade, a que tu puderes chegar com a ajuda divina”.(33) Pelos seus grandes méritos, sendo sagrado bispo por são Gregório II, depois de lhe jurar obediência a ele e aos seus sucessores,(34) fez esta solene declaração: “Eu professo integralmente a pureza da santa fé católica, e com a ajuda de Deus quero permanecer na unidade desta fé, na qual sem dúvida nenhuma está toda a salvação dos cristãos”.(35)
33. Tais provas de obediência e deferência deu-as claramente não só a são Gregório II, mas também aos romanos pontífices seus sucessores, e repetiu-as claramente todas as vezes que se apresentou ocasião.(36) Assim, por exemplo, escreveu a são Zacarias, apenas teve notícia da sua elevação ao pontificado: “…Não nos podia ser mais grata nem causar maior gozo a notícia que nos chegou e agradecemo-la ao céu de mãos erguidas – de ter Deus concedido a vossa clemente paternidade ser o supremo árbitro da lei canônica e governar a Sé Apostólica. Por isso, prostrados humildemente de joelhos aos vossos pés, vos pedimos insistentemente que – como fomos servo devoto e súdito fel do vosso predecessor por autoridade de são Pedro – assim mereçamos ser servo obediente à vossa piedade, em harmonia com o direito canônico. Eu não cesso nunca de convidar e de submeter à obediência da Sé Apostólica os que desejam manter-se na fé católica e na unidade da Igreja romana, e todos aqueles que nesta minha missão Deus me dá como ouvintes e discípulos”.(37)
34. Nos últimos anos da sua vida, já velho e gasto pelas fadigas, assim escrevia devotamente a Estêvão III, logo depois de eleito sumo pontífice: “Do íntimo do meu espírito dirijo uma oração fervorosa à clemência de vossa santidade, para que mereça impetrar e obter a familiaridade e unidade com a santa Sé Apostólica, e prestando serviço como piedoso discípulo a vossa Sé Apostólica, eu possa continuar a ser vosso servo fiel e devoto, do mesmo modo como servi a Sé Apostólica no tempo dos vossos três predecessores”.(38)
35. Com muita razão o santo padre Bento XV, de feliz memória, no décimo-segundo centenário da legação apostólica começada por esse glorioso mártir junto dos Germanos, escrevia aos bispos dessa nação: “Movido por tal fé sólida e inflamado de tanta piedade e caridade, manteve Bonifácio constantemente aquela fidelidade e união com a Sé Apostólica que tinha adquirido primeiro na pátria seguindo a vida monástica; que depois, ao iniciar o combate do seu apostolado, jurara solenemente em Roma sobre o túmulo do santo príncipe dos apóstolos; e que, finalmente, em meio das lutas, tinha proclamado como característica do seu apostolado a regra da missão recebida. Não só isso, mas a todos os que tinham conquistado para o evangelho, não cessou nunca de recomendá-la fervorosamente e de inculcá-la com tanta solicitude que a deixou quase como próprio testamento”.(39)
36. Esse modo de proceder de são Bonifácio, no qual se vê claramente a fidelidade aos romanos pontífices, foi sempre seguido exatamente, como sabeis, veneráveis irmãos, por todos aqueles que tiveram presente que o príncipe dos apóstolos foi colocado pelo divino Redentor como pedra firme, sobre a qual se levanta todo o edifício da Igreja até ao fim dos séculos, e que recebeu “as chaves do reino dos céus, o poder de ligar e desligar”.(40) Os que rejeitam essa pedra, esforçam-se por construir fora dela, não fazem senão lançar sobre areia móvel os alicerces dum edifício oscilante; e os seus esforços, as suas obras e empresas, como todas as coisas humanas, não podem ser sólidas, nem duradouras, nem estáveis; mas, como ensina a história antiga e recente, mudam e transformam-se quase necessariamente com a diversidade de opiniões que se sucedem e as alternativas dos tempos.
37. Por isso julgamos muito oportuno que, sob a vossa guia, nesta celebração jubilar se ponha em plena luz a estreitíssima união deste mártir insigne com a Sé Apostólica, como também as suas grandes iniciativas. Isso não só confirmará a fé e a fidelidade dos que aceitam o magistério infalível do romano pontífice, mas não poderá deixar também de levar à profunda e salutar reflexão aqueles mesmos que por qualquer motivo estão separados dos sucessores de são Pedro. Assim, serão esses conduzidos, sob o impulso da graça, a entrarem ponderada e animosamente pelo caminho que felizmente os reconduza à unidade da Igreja. Esse é o nosso vivo desejo, isto pedimos ao Dador de todos os dons celestiais, que se realize finalmente o ardente voto de todos os bons, isto é, que todos sejam uma só coisa,(41) e todos se encaminhem para um só redil e tenham um só pastor.(42)
C. “A palavra do Senhor permanece eternamente”
38. Outra lição ainda, veneráveis irmãos, nos é dada pela vida de são Bonifácio, que resumimos brevemente. No mosteiro de Fulda, no pedestal da estátua erguido em 1842, que representa a imagem do apóstolo da Germânia, lêem os visitantes esta frase: “A palavra do Senhor permanece eternamente”.(43) Nada se podia escrever mais significativo e verdadeiro. Passaram-se, um após outro, doze séculos; houve migrações de povos; deram-se tantas transformações e sucederam-se guerras horrorosas; cismas e heresias tentaram e tentam rasgar a túnica inconsútil da Igreja; impérios prepotentes e ditaduras de homens, que pareciam nada temer, caíram inesperadamente; variadas teorias filosóficas, que pretendem atingir o auge do saber, tomam sucessivamente o lugar umas das outras, dando repetidamente aparência de verdade. Mas a palavra que Bonifácio pregou aos povos da Germânia, da Gália e da Frísia, sendo palavra daquele que permanece eternamente, vive ainda no nosso tempo, e para todos os que a aceitam sinceramente, é caminho, verdade e vida.(44)
Não faltam ainda hoje, é certo, os que a rejeitam, que procuram contaminá-la com falazes erros, ou que – violando a liberdade devida à Igreja e aos cidadãos – se esforçam com mentiras, perseguições e vexações por arrancá-la das almas e destruí-la. Mas vós bem sabeis, veneráveis irmãos, que esta vil estratégia não é nova; manifesta-se desde os primórdios da era cristã; já nosso Senhor Jesus Cristo tinha prevenido os discípulos: “Lembrai-vos daquela palavra que vos disse: Não é o servo maior que o seu senhor. Se eles perseguiram a mim, também hão de perseguir a vós”.(45) Mas acrescentou estas palavras de consolação: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça; porque deles é o reino dos céus”.(46) E também: “Bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus”.(47)
39. Não é, portanto, nada de admirar se ainda hoje nalguns lugares se odeia o nome cristão; se, de diversos modos e com diversos métodos, é a Igreja em muitas regiões impedida de cumprir a missão divina que recebeu; e se, finalmente, não poucos católicos se deixam enganar com falsas doutrinas e se põem em grave perigo de perder a eterna salvação. Dê a todos nós força e ânimo a promessa do divino Redentor: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”.(48) Do céu nos alcance força s. Bonifácio, que, para levar o reino de Cristo a povos hostis, não recusou trabalhos aturados, ásperos caminhos e até a própria morte, que afrontou com fortaleza e confiança, derramando o próprio sangue. Com a sua intercessão obtenha ele de Deus invicta fortaleza de ânimo àqueles, sobretudo, que se encontram hoje em situação angustiosa por causa das maquinações dos inimigos de Deus; e chame também ele todos naquela unidade da Igreja, que foi não só constante norma o proceder, mas também anseio ardente que o fez perseverar toda a vida em tão diligente atividade.
É o que pedimos a Deus, enquanto a vós todos, veneráveis irmãos; e a cada um dos rebanhos confiados aos vossos cuidados, vos concedemos de coração a bênção apostólica, como auspício dos dons celestes e penhor da nossa paternal benevolência.
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 5 de junho, festa de são Bonifácio bispo e mártir, no ano de 1954, XVI do nosso pontificado.
PIO PP. XII
Notas
(1) Vita s. Bonifatii, auctore Willibaldo, ed. Levison (Hanover e Leipzig,1905), p. 21.
(2) Ibidem.
(3) Vita s. Bonifatii, auctore Otloho, ed. Levison, lib. I, p.127
(4) S. Bonifatii Epistolae, ed. Tangl. (Berlim 1916), epist. 28, p. 49.
(5) Cf. Ibidem, Epist. 51, 57, 58, 60, 68, 77, 80, 86, 87, 89.
(6) Ibidem, Epist.108, pp. 233-234.
(7) Ibidem, Epist. 73, p.150.
(8) Vita s. Bonifatii, auctore Otloho, ed. Levison, lib. I, p.157.
(9) Ibidem, ed. Levison, liv. I, p.158.
(10) S. Bonifatii Epist. ed Tangl, Epist. 86, pp.193-194.
(11) Cf. Ibidem, Epist. 41, p. 66.
(12) Cf. Ibidem, Epist. 61, pp.125-126.
(13) Vita s. Bonifatii, auct. Willibaldo, ed. Levison, p. 40.
(14) Cf. Sirmond, Concilia antiqua Galliae (Paris 1629), t. I, p. 511ss.
(15) Cf. s. Bonifatii Epist., ed. Tangl, epist. 28, pp. 49-52.
(16) Cf. Ibidem, Epist. 57, pp.104-105; e Epist. 59, p.109.
(17) Cf. Ibidem, Epist. 78, p.163.
(18) Vita s. Bonifatii, auct. Willibaldo, ed. Levison, p. 46.
(19) Ibidem.
(20) Ibidem, p. 47.
(21) Ibidem, pp. 49-50.
(22) Cf. Ibidem, p. 50; e Vita s. Bonifatii, auct. Otloho, ed. Levison, lib. II, p. 21.
(23) Vita s. Bonifatii, auct. Radbodo, ed. Levison, p. 73.
(24) Vita s. Bonifatii, auct. Willibaldo, ed. Levison, p. 54.
(25) S. Bonifatii Epist., ed. Tangl, epist, 111, p. 240.
(26) Cf. Epistolae Lupi Servati, ed. Levillain, t. I (Paris 1927); epist. 5, p. 42.
(27) 2 Cor 5, 14.
(28) Rm 8, 35.38.39.
(29) Fl 4, 13.
(30) Sl 18, 5; Rm 10, 18.
(31) Cf. s. Bonifatii Epist., ed. Tangl, epist. 86, pp.189-191.
(32) Ibidem, Epist. 67, pp.139-140.
(33) Ibidem, Epist. 12, pp.17-18.
(34) Cf. Ibidem, pp. 28-29.
(35) Cf. Ibidem, p. 29.
(36) Cf. Vita s. Bonifatii, auc. Willibaldo, ed. Levison, p. 25; ibidem, pp. 27-28; s. Bonifatii Epist., ed. Tangl, Epist. 67, pp. 139-140; Epist. 59, pp. 110-112; Epist. 86, pp.191-194; Epist.108, pp. 233-234.
(37) Ibidem, Epist. 50, p. 81.
(38) Ibidem, Epist.108, pp. 233-234.
(39) Epist. Enc. In hac tanta, AAS 11(1919), pp. 216-217.
(40) Cf. Mt 16, 18-19.
(41) Cf. Jo 17, 11.
(42) Cf. Jo 21, 15.16.17.
(43) Cf.1 Pd 1, 25.
(44) Cf. Jo 14, 6.
(45) Jo 15, 20.
(46) Mt 5, 10.
(47) Mt 5, 11, 12.
(48) Mt 28, 20.