Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Vida de Santa Ana

Frederick Holweck, Enciclopédia Católica

Ana (hebraico, Hannah, graça; também grafada* Ann, Anne, Anna) é o nome tradicional da mãe da Santíssima Virgem Maria.

Todas as nossas informações a respeito dos nomes e da vida dos santos Joaquim e Ana, os pais de Maria, são derivados de literatura apócrifa, do Evangelho da Natividade de Maria, do Evangelho de Pseudo-Mateus e do Protoevangelho de Tiago. Embora a forma mais antiga deste último, na qual direta ou indiretamente os outros dois parecem se basear, remonte a cerca de 150 d.C., dificilmente podemos aceitar como indubitáveis suas várias declarações apenas sob sua própria autoridade. No Oriente, o Protoevangelho tinha grande autoridade e partes dele eram lidas nas festas de Maria pelos gregos, sírios, coptas e árabes. No Ocidente, entretanto, foi rejeitado pelos Padres da Igreja até que seu conteúdo fosse incorporado por Tiago de Voragine em sua Legenda Aurea no século XIII. A partir dessa época, a história de Santa Ana se espalhou pelo Ocidente e foi amplamente desenvolvida, até que Santa Ana se tornasse uma das santas mais populares também da Igreja Latina.

O Protoevangelho fornece o seguinte relato: “Em Nazaré vivia um casal rico e piedoso, Joaquim e Ana. Eles não tinham filhos. Quando em um dia de festa Joaquim se apresentou para oferecer sacrifício no templo, foi repelido por um certo Rubem, sob o pretexto de que homens sem descendência eram indignos de serem admitidos. Diante disso, Joaquim, curvado pela dor, não voltou para casa, mas foi para as montanhas para fazer sua súplica a Deus na solidão. Também Ana, tendo conhecido o motivo da prolongada ausência de seu marido, clamou ao Senhor que lhe tirasse a maldição da esterilidade, prometendo dedicar seu filho ao serviço de Deus. Suas orações foram ouvidas; um anjo veio a Ana e disse: ‘Ana, o Senhor olhou para as tuas lágrimas; tu conceberás e darás à luz e o fruto do teu ventre será abençoado por todo o mundo’. O anjo fez a mesma promessa a Joaquim, que voltou para sua esposa. Ana deu à luz uma filha a quem chamou Miriam (Maria)”. Visto que esta história é aparentemente uma reprodução do relato bíblico da concepção de Samuel, cuja mãe também se chamava Ana, até o nome da mãe de Maria parece ser duvidoso.

O renomado Padre João Maier de Ingolstadt, em um sermão sobre Santa Ana (publicado em Paris em 1579), simula saber até mesmo os nomes dos pais Santa Ana. Ele os chama de Stollanus e Emerentia. Diz que Santa Ana nasceu depois que Stollanus e Emerentia ficaram sem filhos por vinte anos; que São Joaquim morreu logo após a apresentação de Maria no templo; que Santa Ana então se casou com Cleofas, por quem ela se tornou a mãe de Maria de Cleofas (a esposa de Alfeu e mãe dos Apóstolos Tiago, o Menor, Simão e Judas, e de José, o Justo); após a morte de Cleofas, ela teria se casado com Salomas, de quem deu à luz Maria Salomé (esposa de Zebedeu e mãe dos apóstolos João e Tiago, o Maior). A mesma lenda espúria é encontrada nos escritos de Gerson (Opp. III, 59) e de muitos outros. Surgiu no século XVI uma controvérsia animada sobre os casamentos de Santa Ana, na qual Baronius e Bellarmine defenderam sua monogamia. O grego Menaea (25 de julho) designa os pais de Santa Ana como Mathan e Maria, e conta que Salomé e Isabel, mãe de São João Batista, eram filhas de duas irmãs de Santa Ana. De acordo com Epifânio, sustentou-se até mesmo no século IV por alguns entusiastas que Santa Ana concebeu sem a ação do homem. Este erro foi revivido no Ocidente no século XV. (Anna concepit per osculum Joachimi). Em 1677, a Santa Sé condenou o erro de Imperiali, que ensinou que Santa Ana na concepção e nascimento de Maria permaneceu virgem (Bento XIV, De Festis, II, 9). No Oriente, o culto a Santa Ana remonta ao século IV. Justiniano I (falecido em 565) tinha uma igreja dedicada a ela. O cânone do Ofício grego de Santa Ana foi composto por São Teófanes (falecido em 817), mas as partes mais antigas do Ofício são atribuídas a Anatólio de Bizâncio (falecido em 458). A sua festa é celebrada no Oriente no dia 25 de julho, que pode ser o dia da dedicação da sua primeira igreja em Constantinopla, ou o aniversário da chegada das suas supostas relíquias a esta cidade (710). Tal festa é encontrada no documento litúrgico mais antigo da Igreja Grega, o Calendário de Constantinopla (primeira metade do século VIII). Os gregos celebram uma festa coletiva de São Joaquim e Santa Ana no dia 9 de setembro. Na Igreja Latina, Santa Ana não era venerada, exceto, talvez, no sul da França, antes do século XIII. Seu retrato, pintado no século VIII, que foi encontrado recentemente na igreja de Santa Maria Antiqua em Roma, deve sua origem à influência bizantina. Sua festa, sob a influência da Legenda Aurea, foi celebrada pela primeira vez (26 de julho) no século XIII, por ex. em Douai (em 1291), onde um pé de Santa Ana era venerado (festa da trasladação, 16 de setembro). Introduziu-se na Inglaterra por Urbano VI, em 21 de novembro de 1378, quando se espalhou por toda a Igreja Ocidental. Foi estendida à Igreja Latina universal em 1584.

As supostas relíquias de Santa Ana foram trazidas da Terra Santa para Constantinopla em 710 e ainda eram mantidas lá na igreja de Santa Sofia em 1333. A tradição da igreja de Apt, no sul da França, afirma que o corpo de Santa Ana foi trazido a Apt por São Lázaro, o amigo de Cristo, escondido por Santo Auspício (morto em 398) e encontrado novamente durante o reinado de Carlos Magno (festa, segunda-feira após a oitava da Páscoa); essas relíquias foram levadas a uma magnífica capela em 1664 (festa, 4 de maio). A cabeça de Santa Ana foi mantida em Mogúncia até 1510, quando foi roubada e levada para Düren, na Renânia. Santa Ana é a padroeira da Bretanha. Seu retrato milagroso (festa, 7 de março) é venerado em Notre Dame d’Auray, Diocese de Vannes. Também no Canadá, onde é a principal padroeira da província de Quebec, é bem conhecido o santuário de Santa Ana de Beaupré. Santa Ana é a padroeira das mulheres em trabalho de parto; ela é representada segurando a Bem-Aventurada Virgem Maria no colo, que por sua vez carrega em seus braços o menino Jesus. Ela também é a padroeira dos mineiros, Cristo sendo comparado ao ouro, Maria à prata.

*Estas são variações da grafia do nome “Anne” na língua inglesa, em que este artigo foi originalmente escrito.

Fonte: Holweck, Frederick. “St. Anne.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 1. New York: Robert Appleton Company, 1907. 24 Jul. 2021 <http://www.newadvent.org/cathen/01538a.htm>.

Traduzido por Leonardo Brum.