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Análise

Charles Dubray, Enciclopédia Católica

Análise (ana = “para cima” ou “atrás”, e lyein, “dissolver”) significa uma separação; é a desmontagem daquilo que foi unido e corresponde exatamente à forma latina “resolução” (re + solvere). Seu oposto é síntese (syn, “junto” e tithenai “colocar”, portanto, uma “reunião”, uma “composição”). De acordo com essa etimologia, a análise, em geral, é o processo pelo qual qualquer coisa complexa é separada em partes ou elementos simples, ou, ao menos, de menor complexidade. Este complexo pode ser: 

(1) Concreto, isto é, uma substância, qualidade ou processo individual, na ordem física ou mental; 

(2) Abstrato e ideal; incapaz, portanto, de existir à parte da mente que a concebe.  

(1) No caso de um objeto concreto, devemos distinguir três graus de análise. Às vezes, uma separação ou isolamento real é efetivado. Para separar um composto químico em seus elementos, ou luz branca nas cores elementares, dissecar um organismo, fazer uma máquina em peças, é proceder analiticamente. Mas frequentemente o isolamento real é impossível. Assim, os fatores de um movimento ou de um processo psicológico não podem ser separados e estudados separadamente. Se um determinado processo ocorrer, deve ser complexo. Podemos, no entanto, alcançar um resultado analítico por meio de diferentes sínteses sucessivas, ou seja, por variações no agrupamento dos elementos ou circunstâncias. Para determinar a natureza individual de qualquer elemento, fator ou circunstância determinada, ela é mantida no estado de permanência, enquanto os elementos, fatores ou circunstâncias que a acompanham são eliminados ou alterados; ou, pelo contrário, podem ser eliminados ou modificados, enquanto os outros permanecem constantes. Os quatro métodos de indução pertencem a essa forma de análise. Também é em grande medida o método do experimento psicológico e da análise introspectiva. Finalmente, pode ser impossível efetuar qualquer dissociação real de uma coisa ou evento concreto, seja porque não pode ser alcançado ou controlado, ou porque já é passado. Então, dissociação e abstração são utilizadas. Em um objeto complexo, a mente considera separadamente alguma parte ou característica que, na realidade, não pode ser separada. A analogia e a comparação de tais casos com outros similares nos quais a dissociação foi efetuada são de grande valor, e os resultados já apurados são aplicados ao caso examinado. Isso ocorre frequentemente nas ciências físicas e psicológicas; é também o método utilizado pelo historiador ou pelo sociólogo no estudo de eventos e instituições. 

(2) Quando o complexo é uma ideia, a análise consiste em dividi-la em ideias mais simplificadas. Estamos na ordem abstrata e devemos permanecer nela; consequentemente, não levamos em consideração a extensão de uma ideia, isto é, seu alcance de aplicabilidade a coisas concretas, mas sim sua intenção ou conotação, ou seja, seu conteúdo ideal. Analisar uma ideia é destrinchá-la em outras ideias cuja complexidade ideal, ou cuja conotação não é tão grande. O mesmo deve ser dito do raciocínio analítico. A verdade de uma proposição ou de uma afirmação complexa é analiticamente demonstrada, revertendo da própria proposição para princípios superiores, da declaração complexa para uma verdade mais geral. E isso se aplica não apenas à matemática, quando um determinado problema é resolvido demonstrando-se sua conexão necessária com uma proposição demonstrada anteriormente, ou com um axioma evidente, mas também para todas as ciências nas quais, a partir dos fatos, dos efeitos e das circunstâncias,  inferimos a lei, a causa e a condição. Princípio, lei, causa, natureza, condição, são menos complexos do que conclusão, fato, efeito, ação, pois são aplicações concretas e outras determinações do primeiro. Uma lei física, por exemplo, é uma expressão simplificada de todos os fatos que ela governa. Em uma palavra, portanto, podemos caracterizar a análise como um processo de resolução e regressão; já a síntese, como um processo de composição e progressão.  

A confusão que existiu e ainda existe na definição e uso dos termos análise e síntese é devida às diversas naturezas dos complexos que devem ser analisados. Ademais, um mesmo objeto pode ser analisado sob diferentes pontos de vista e, consequentemente, com vários resultados. É especialmente importante ter em mente a distinção entre a conotação e a denotação de uma ideia. Como os dois variam em razão inversa, fica claro que, em uma ideia, a subtração de certos elementos conotativos implica um aumento na extensão. Portanto, a análise conotativa é necessariamente uma síntese extensa e vice-versa. Assim, se a minha ideia de criança é a de “um ser humano sob uma certa idade”, pela análise conotativa posso omitir a última determinação “sob uma certa idade”; o que resta é menos complexo do que a ideia “criança”, mas aplica-se a um maior número de indivíduos, nomeadamente a todos os seres humanos. Para restringir a extensão a menos indivíduos, a conotação deve ser aumentada, ou seja, outras determinações devem ser adicionadas. Da mesma maneira, um fato, quando reduzido a uma lei, seja na ordem física, mental ou histórica, é reduzido a algo que tem uma extensão maior, já que se supõe que ele rege todos os fatos da mesma natureza, mas a lei é menos complexa em conotação, uma vez que não compartilha os caracteres individuais dos eventos concretos.  

A necessidade de análise vem do fato de que o conhecimento começa com a percepção do concreto e do indivíduo, e que tudo o que é concreto é complexo. Assim, a mente, incapaz de compreender distintamente toda a realidade de uma só vez, deve dividi-la e estudar as partes separadamente. Além disso, a tendência inata da mente para a unificação e classificação leva-a a negligenciar certos aspectos, de modo a alcançar verdades e leis mais gerais, cujo alcance de aplicação é maior. A relativa utilidade da análise e síntese nas várias ciências depende da natureza dos problemas a serem resolvidos, do conhecimento já disponível, da atitude da mente e do estágio de desenvolvimento da ciência. A indução é principalmente analítica; a dedução, sintética. Na proporção em que uma ciência natural se torna mais sistemática, ou seja, quando leis mais gerais são formuladas, o processo sintético é mais livremente utilizado. A análise anterior permite então que uma pessoa “componha” ou deduza experiências futuras. Onde, ao contrário, a lei precisa ser descoberta, a observação e a análise são dominantes, embora, mesmo assim, a síntese seja indispensável para a verificação de hipóteses.  

Algumas ciências, como a geometria euclidiana, procedem sinteticamente, de simples noções e axiomas a verdades mais complexas. A análise tem a vantagem de aderir mais estritamente ao ponto sob investigação; A síntese corre o risco de se desgarrar, já que, a partir do mesmo princípio, muitas conclusões diferentes podem ser tiradas, e uma multidão de eventos reais ou possíveis são regidos pela mesma lei. Por essa mesma razão, no entanto, a síntese, ao menos em certas ciências, provavelmente será mais proveitosa do que a análise. Também tem a vantagem de partir daquilo que tem uma prioridade natural, pois o condicionado pressupõe a condição. Quando o resultado já é conhecido e a relação entre um princípio e uma conclusão assim determinada, a síntese é uma grande ajuda para ensinar aos outros. Na síntese, o rigor do raciocínio lógico é necessário. Precisão e exatidão na observação dos fenômenos, atenção a todos os detalhes, poder de abstração e generalização mental são qualidades indispensáveis no processo analítico.


Fonte: Dubray, Charles. “Analysis.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 1. New York: Robert Appleton Company, 1907. 18 Jun. 2019 <http://www.newadvent.org/cathen/01450a.htm>.

Traduzido por Isabel Serra.