Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Domingo da Sexagésima

D. Crisóstomo d’Aguiar

O Introito começa num tom triste, mas solene, como convinha às circunstâncias em que foi instituída a festa, na época calamitosa em que os lombardos punham a ferro e fogo uma grande parte da Itália e ameaçavam já a Cidade Eterna: Levantai-vos, porque dormis, Senhor?… grito de esperança que, no momento da tribulação, irromperá da alma, desiludida dos poderes da terra. Na Colecta encontrará-se ainda a expressão da angústia perante as calamidades que nos rodeiam, ligada com a suma confiança do Senhor, graças à intervenção do grande Apóstolo S. Paulo.

Depois no Evangelho é Jesus que, da barca, junto à margem do lago de Genesaré, prega a parábola do semeador. O bom semeador é Ele, Jesus Redentor, que dá, por sua doutrina, a vida às almas (Oração), que o procuram. Ouçamos sempre essa divina doutrina que transformou o mundo, e nos transformará também a nós, se a semente lançada não encontrar a terra de nossas almas ou empedernida e dura para a não deixar germinar, ou estéril, de trabalhada que talvez ande por vicejamento de vícios. 

Jesus é o Semeador divino; mas quantos não continuaram na Igreja o gesto do seu Fundador! O maior talvez, a quem, com feliz adaptação, a Liturgia refere a parábola evangélica, é S. Paulo que, afrontando naufrágios e “perigos no mar” (Epístola), estendeu e pregou a palavra vivificadora de Cristo desde Damasco e da Arábia até às colunas de Hércules, a todas as nações (Oração). As pedras da estrada, os espinhos, etc., serão, como têm sido sempre, os obstáculos a oporem-se à frutificação da palavra de Deus, a impedirem nas almas e nos povos que ela seja eficaz e transformadora. 

Ah! Se houvesse o empenho em escutar a divina palavra, como se via na antiguidade cristã, e na Idade Média, quando, uma vez, Santa Francisca Romana, se aproveitou do concurso do povo para se confundir com a multidão dos pobres que naquele dia de Sexagésima mendigavam à porta da basílica Ostiense, e assim ouvia a divina palavra!… Ouçamos os divinos oráculos e, com o salmo 16, peçamos a Deus nos sustente as passadas nos seus caminhos, e nos não trepidem os pés (Ofertório), quando trilhamos a senda por vezes áspera dos seus mandamentos. A palavra de Deus, ouvida junto aos altares de Jeová, e praticada com fervor, dará alegria a nossa vida (Comunhão) e, assim, confortados por ela e pelos Sacramentos, que serão o nosso auxílio e força, teremos obras e ofereceremos serviços que a Deus serão aceites, e, em recompensa, ficarão nossas almas mais enriquecidas de celestiais bênçãos. Durante a Quaresma que se aproxima, a Igreja vai derramar em maior abundância a sua boa semente para nos preparar para a ressurreição espiritual que se realizará na Páscoa. Não nos passe na indiferença o convite que a todos ela nos faz, antes comprimamo-nos junto da cadeira da Verdade, donde ouviremos a palavra de salvação que nos avocará o espírito para os pensamentos e ideais dignos de nós, e do nosso alto destino.


[Segue abaixo o texto do próprio da Missa do Domingo da Sexagésima]