Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Vida de São Pedro de Alexandria

Francis Joseph Bacchus, Enciclopédia Católica

Tornou-se bispo de Alexandria em 300; martirizado em novembro de 311. De acordo com Filipe de Sidetes, ele já foi líder da famosa Escola Catequética de Alexandria. Sua importância teológica situa-se no fato de ter marcado e, muito provavelmente, iniciado a reação de Alexandria contra o origenismo extremo.

Quando, durante a perseguição de Diocleciano, Pedro deixou Alexandria para se esconder, o cisma meleciano irrompeu. Há três diferentes relatos sobre o cisma: (1) De acordo com três documentos latinos (tradução de originais gregos perdidos) publicados por Scipione Maffei, Melécio, bispo de Licópolis, aproveitou-se da ausência de São Pedro para usurpar suas funções patriarcais, e violou os cânones sagrando bispos, sendo que seus seus respectivos ocupantes encontravam-se presos por motivo de fé. Quatro deles admoestaram, mas Melécio não os levou em conta e de fato foi para Alexandria; onde, por instigação de Isidoro I, e Ário, o futuro heresiarca, deixou de lado os que estavam sob o comando de Pedro e designou outros. Após isso, Pedro o excomungou. (2) Santo Atanásio acusa Melécio não apenas por sua conduta turbulenta e cismática, mas de sacrificar e até mesmo denunciar Pedro ao imperador. Não há incompatibilidade entre os documentos latinos e Santo Atanásio, mas a declaração de que Melécio o imolou deve ser recebida com cautela; foi provavelmente baseado em boatos decorrentes da imunidade da qual ele parecia gostar. Em todo caso, nada foi ouvido sobre a acusação no Concílio de Nicéia. (3) De acordo com Santo Epifânio (Haer., 68), Melécio e São Pedro discutiram sobre a reconciliação dos lapsi (nome dado àqueles que apostataram sua fé durante a perseguição do império romano), o primeiro se inclinando para visões mais severas. Epifânio provavelmente derivou sua informação de uma fonte meleciana, e sua história está repleta de erros históricos. Tanto é assim que, para exemplificar, Pedro é feito prisioneiro de Melécio e é martirizado na prisão. De acordo com Eusébio, seu martírio foi inesperado e, portanto, não precedido por uma determinação de prisão.

Há uma coleção de quatorze cânones editados por Pedro no terceiro ano da perseguição, tratando principalmente dos lapsi, extraídos provavelmente de uma Epístola da Festa de Páscoa. O fato de terem sido ratificados pelo Concílio de Trullo (ou Quinissexto) e, assim, terem se tornado parte da lei canônica da Igreja Oriental, provavelmente explica sua preservação. Muitos manuscritos contêm um décimo quinto cânon retirado da escrita da Páscoa. Os casos de diferentes tipos de lapsi foram decididos nesses cânones.

Os Atos do martírio de São Pedro já são tardios demais para ter qualquer valor histórico. Neles está a história de Cristo aparecendo a São Pedro com sua renda, prevendo o cisma ariano. Três passagens de “Da Divindade”, aparentemente escritas contra as visões subordinacionistas de Orígenes, foram citadas por São Cirilo no Concílio de Éfeso. Duas outras passagens (em siríaco), alegando ser do mesmo livro, foram impressas por Pitra em “Analecta Sacra”, IV, 188; e sua genuinidade é duvidosa. Leôncio de Bizâncio cita uma passagem afirmando as duas naturezas de Cristo a partir de um trabalho sobre “A vinda de Cristo” e duas passagens do primeiro livro de um tratado contra a visão de que a alma existiu e pecou antes de se unir ao corpo . Este tratado deve ter sido escrito contra Orígenes. De alta relevância são os sete fragmentos preservados em siríaco (Pitra, op. Cit., IV, 189-93) de outro trabalho sobre a ressurreição, no qual a identidade do ressuscitado com o corpo terreno é mantida contra Orígenes.

Cinco fragmentos armênios também foram publicados por Pitra (op. Cit., IV, 430 sq.). Dois deles correspondem a um dos duvidosos fragmentos siríacos. Os três restantes são provavelmente falsificações monofisitas (Harnack, “Altchrist. Lit.”, 447). Um fragmento citado pelo Imperador Justiniano em sua Carta ao Patriarca Mennas, supostamente tirado de uma Mistagogia de São Pedro, é provavelmente falso. O “Chronicon Paschale” dá um longo extrato de uma suposta escrita de Pedro na Páscoa. Isso é condenado como espúrio por uma referência a Santo Atanásio (que os editores costumam suprimir), a menos que, de fato, a referência seja uma interpolação. Um fragmento impresso pela primeira vez por Routh a partir de um tratado “Da Blasfêmia” é geralmente considerado espúrio. Um fragmento que copta sobre a guarda do domingo, publicado por Schmidt, foi considerado falso por Delehaye, em cujo veredicto os críticos parecem concordar. Outros fragmentos coptas foram editados com uma tradução de Crum no “Journal of Theological Studies” (IV, 287 sqq.). A maioria deles vem do mesmo manuscrito do fragmento editado por Schmidt. Seu editor diz: “Seria difícil manter a genuinidade desses textos depois das críticas de Delehaye (Anal. Bolland, XX, 101), embora algumas das passagens que publiquei possam indicar composições interpoladas, e não inteiramente apócrifas.”


Bibliografia

ROUTH, Reliq. Sac., III, 319-72, nos dá a maior parte das passagens atribuídas a S. Pedro. Uma tradução de muitas delas, bem como do martírio, será encontrada em CLARKE, Ante-Nicene Christ. Library, in vol. contendo obras de METHODIUS. Acerca do cisma meleciano: HEFELE, Hist. of Councils, tr. I, 341 sq. A melhor edição dos cânones é LAGARDE, Reliq. Juris Eccles.,63-73. A edição mais recente do martírio é VITEAU, Passions des saints Ecaterine et Pierre d’Alexandrie, Barbara et Amysia (Paris, 1897). Ver HARNACK, Altchrist. Lit., 443-49; and Chronologie, 71-75. BARDENHEWER, Gesch. d. altkirch. Lit., II, 203 sq. RADFORD, Three Teachers of Alexandria: Theognostus, Pierius and Peter (Cambridge, 1908).


Fonte: Bacchus, Francis Joseph. “St. Peter of Alexandria.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 11. New York: Robert Appleton Company, 1911. 24 Nov. 2018 <http://www.newadvent.org/cathen/11771a.htm>.

Traduzido por Isabel Serra.

[Segue abaixo oração ao santo, por ocasião de sua festa em 26 de novembro, extraída do Missale Romanum, 1943]

OREMOS

Deus onipotente, lançai os olhos para a nossa fraqueza, e proteja-nos com sua gloriosa intercessão o bem-aventurado Pedro, vosso Pontífice e Mártir, porque gememos debaixo do peso das nossas culpas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
OREMUS

Infirmitátem nostram réspice, omnípotens Deus: et, quia pondus própriæ actiónis gravat, beáti Petri Mártyris tui atque Pontíficis intercéssio gloriósa nos prótegat. Per Dóminum Nostrum Jesum Christum.