Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Idelogia de gênero: entrevista ao portal JL Política

Diante da recente publicação da uma reportagem do portal JL Política sobre a questão do gênero, na qual diversas posições acerca do assunto foram expressas, entre as quais a do Instituto Jackson de Figueiredo, representado por um de seus diretores, Leonardo Brum, consideramos conveniente publicar na íntegra a entrevista concedida por e-mail à jornalista Tanuza Oliveira, a fim de tornar à sociedade mais claras as nossas idéias em relação ao tema, já que, por uma questão de limitação de espaço, a qual compreendemos perfeitamente, o referido portal não teve como publicar tudo quanto explicamos a respeito do problema em pauta. A entrevista segue abaixo.

JLPolítica – Fale um pouco sobre a criação e o papel do Instituto, por favor. 

LB – O Instituto Jackson de Figueiredo surgiu em agosto de 2015, quando da votação do Plano Estadual de Educação. À época, estávamos justamente preocupados que o plano contivesse elementos da ideologia de gênero, mas felizmente tudo isso foi retirado do texto final. Consideramos que era hora de reunir católicos leigos (ou seja, que não fazem parte do clero) com o intuito de atuar política e culturalmente na sociedade sergipana, sempre em consonância com a Doutrina da Igreja. É por isso que escolhemos como patrono Jackson de Figueiredo, que foi um intelectual sergipano pioneiro nesse tipo de movimento no Brasil, ao criar, no Rio de Janeiro, o Centro Dom Vital, que existe até hoje. Resgatar a memória de Jackson também é um dos nossos objetivos. Publicamos semanalmente em nosso site textos de sua autoria e temos a intenção de lançar um livro inédito dele ainda este ano.

JLPolítica – Como o IJF vê a questão da ideologia de gênero? 

LB – O assunto é complexo, o que significa que a resposta ficará um tanto longa. O que designamos por “ideologia de gênero” é a tese segundo a qual identidades como as de homem e de mulher não decorrem do sexo biológico, mas antes de determinadas construções sociais. Se tal tese prevalecer, isso significa que uma pessoa do sexo masculino (um travesti, por exemplo) pode ser considerada mulher à medida que assumir essa identidade e, consequentemente, ter todos os direitos que uma mulher tem, como se aposentar mais cedo ou ser amparada pela Lei Maria da Penha, o que consideramos uma grande injustiça. Além disso, o conceito de gênero desloca as identidades do sexo biológico, mas não oferece um critério melhor de distinção entre homens e mulheres. O resultado é que a distinção acaba sendo comportamental: o travesti, por exemplo, usa roupas “femininas”, maquiagem, enfim, age “como mulher” e é isso que permite identificá-lo com tal. Ora, os mesmos ideólogos que, na prática, distinguem os homens das mulheres pelo comportamento, já que o sexo não é mais critério, são os que afirmam em teoria que não existe um comportamento “de homem” ou “de mulher”, mas que, pelo contrário, tudo isso é resultado de uma opressão da sociedade e deve ser combatido. Essa contradição só será solucionada por uma radicalização denominada teoria queer, onde as identidades serão multiplicadas ao infinito (pois dizer que elas se resumem a duas é estar preso à dualidade dos sexos) e as próprias noções de homem e mulher ficarão completamente esvaziadas. No fim, é disso que se trata: os defensores da perspectiva de gênero não acreditam que existam mulheres, que “mulher” é um símbolo imposto para oprimir parte da humanidade, mas como a sociedade ainda não está preparada para um discurso tão radical, é necessário insistir na categoria “mulher” por uma questão de estratégia, para fazer certa agenda política avançar, como confessa a socióloga Berenice Bento. É um discurso contraditório, mas rigor lógico nunca foi necessário para se obter sucesso político. Sendo assim, as pessoas do sexo masculino que vem sendo convencidas a se identificarem como “mulheres trans” estão sendo enganadas e feitas de massa de manobra. É aqui que se conclui que não há outro nome para isso: por mais que os defensores do gênero digam que não, a coisa só pode ser chamada de ideologia. É uma falsidade completa. De nossa parte, o que defendemos é que homem e mulher são, respectivamente, os machos e fêmeas da espécie humana e tão-somente isso.

JLPolítica – Para o IJF, o debate em torno dessa questão deve ser evitado nas escolas? Por quê?

LB – Defendemos que o conceito de gênero seja abordado nas escolas na exata medida que se faz necessário que a crítica que acabamos de apresentar chegue aos ouvidos dos estudantes. É algo que vem ganhando relevância na sociedade e os alunos precisam saber o que é. O que não desejamos é que, no currículo escolar, os fatos sociais sejam interpretados a partir da perspectiva de gênero, por ela ser, como explicamos, falsa. Essa posição nossa vem sendo injustamente criticada por uma questão de ignorância e/ou má-fé. Para aqueles que não conseguem enxergar a categoria “mulher” senão como uma identidade de gênero, nossa oposição a essa perspectiva os faz dizer que rejeitar o conceito de “gênero” na escola é impedir que se discuta com os estudantes temas como a violência contra a mulher, por exemplo. Isso é falso! Não temos nada contra a discussão desses temas. O que não queremos é que o conceito de “gênero” sirva de base para a discussão, pelas razões que já expusemos. Se “violência contra a mulher” significar “violência contra pessoas do sexo feminino”, não há razão para rejeitar a discussão disso na escola.

JLPolítica – E na política, o senhor acredita que o debate deve ocorrer nesse âmbito? 

LB – Esse é o campo onde o debate se faz mais necessário, pois uma ideologia é fundamentalmente isso: um conjunto de teses que se ordena ao alcance de determinadas metas políticas. Uma vez que não faltam militantes em prol da ideologia de gênero, sobretudo nos partidos de esquerda, é preciso que haja quem se lhes oponha.

JLPolítica – Para o IJF, como a questão deve ser abordada? 

LB – O primeiro passo é procurar entender realmente aquilo que defendem os proponentes da ideologia de gênero. A grande maioria das pessoas não conseguem pensar por essa perspectiva — que, de fato, é “exótica”, para dizer o mínimo — e acabam por combatê-la sem o devido entendimento. Quando os ideólogos dizem que não se nasce homem nem mulher, por exemplo, é comum ouvir de certas pessoas que isso significaria “nascer sem sexo”, o que é um absurdo que se deve rejeitar, mas não é o que os defensores do gênero (que justamente afirmam que as identidades não dependem do sexo) estão querendo dizer. É necessário essa autocrítica e uma honestidade intelectual que nos permita combater a coisa tal como ela é. Uma vez que se a entende e que se destrincha suas contradições e suas finalidades, aí sim é chegada a hora de enfrentar efetivamente o problema e de impugnar publicamente a tese como sendo uma ideologia falsa.

JLPolítica – O IJF costuma realizar atos contra eventos como o do Colégio Master?

LB – Nós procuramos acompanhar o que ocorre em nossa sociedade e agir quando consideramos necessário. Já travamos anteriormente uma polêmica com a deputada Ana Lúcia por conta da questão do aborto, o que significa que o caso do Colégio Master não é o primeiro, nem será o último no qual a nossa militância vai se fazer sentir. A propósito, depois que fizemos o post, soubemos que o delegado Mário Leony teve o convite cancelado pelo colégio por ser pré-candidato a deputado pelo PSOL, o que, de certa forma, foi uma vitória. Enfim, a última coisa da qual podemos ser acusados é de “evitar o debate”, como certos críticos têm falado.

JLPolítica – Por favor, fique à vontade para acrescentar quaisquer informações. 

LB – Gostaria de agradecer ao JLPolítica pelo espaço concedido e aproveitar para divulgar nossos eventos. O instituto promove aulas sobre os mais variados temas todas às terças-feiras, a partir das 18:30, no escritório Neoworking, localizado à rua Tênisson Ribeiro, nº 552, Salgado Filho. As aulas são gratuitas e abertas a todos. A nossa próxima exposição, no dia 29 de maio, será justamente sobre a ideologia de gênero [1]. Entre 4 e 7 de junho promoveremos uma série de aulas com o professor de filosofia tomista Carlos Nougué [2], que virá do Rio de Janeiro. Aqueles que tiverem interesse em acompanhar nosso trabalho e, eventualmente, entrar em contato, podem acessar os seguintes endereços na internet:

Nosso site:
http://institutojacksondefigueiredo.org/

Nossa página no Facebook:
https://www.facebook.com/institutojacksondefigueiredo/

Nosso canal no YouTube:
https://www.youtube.com/c/institutojacksondefigueiredo?sub_confirmation=1

Muito obrigado, mais uma vez, e até uma próxima oportunidade.

Leonardo Brum


[1] A precariedade nos transportes ocasionada pela última greve dos caminhoneiros nos fez adiar a aula sobre a ideologia de gênero para o próxima terça-feira, 5 de junho de 2018, no mesmo horário e local (escritório Neoworking, localizado à rua Tênisson Ribeiro, nº 552, Salgado Filho, às 18:30h).

[2] De igual maneira, a vinda do prof. Carlos Nougué a Aracaju foi adiada devido às consequências da referida greve. A previsão é que ele possa vir na segunda quinzena de julho deste ano.