Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Quinta-Feira Santa

Henri Leclercq, Enciclopédia Católica

A festa de Quinta-feira Santa comemora solenemente a instituição da Eucaristia e é a mais antiga das celebrações peculiares da Semana Santa. Em Roma, no começo desta comemoração, acrescentaram-se várias cerimônias acessórias, a saber, a consagração dos Santos Óleos e a reconciliação dos penitentes, cerimônias, obviamente, de caráter prático e de fácil explicação pela proximidade da Páscoa cristã e a necessidade de preparar se para ela. A Quinta-feira Santa não podia deixar de ser um dia de reunião litúrgica, já que, no ciclo de festas móveis, ela gira em torno do aniversário da instituição da liturgia. Nesse dia, enquanto se completava a preparação dos candidatos, a Igreja celebrava a Missa Chrismalis da qual descrevemos o rito (veja em “Santos Óleos”) e por outro lado, procedia a reconciliação dos penitentes.

Em Roma tudo se levava a cabo durante o dia, enquanto que na África a Eucaristia da Quinta-feira Santa se celebrava depois da refeição da noite, tendo em vista uma mais exata conformidade com as circunstâncias da Última Ceia. O Cânon 29 do Concílio de Cartago dispensa os fiéis do jejum antes da comunhão na Quinta-feira Santa, porque nesse dia existia costume de tomar banho, e o banho e o jejum se consideravam incompatíveis. Santo Agostinho também fala desse costume (Ep. CXVIII ad Januarium, n. 7) inclusive disse que, como certas pessoas não jejuavam nesse dia, a oferenda fazia-se duas vezes, pela manhã e tarde, e assim aqueles que não observavam jejum poderiam participar da Eucaristia depois da refeição da manhã, enquanto os que jejuavam esperavam a refeição da noite. 

A Quinta-feira Santa celebrava-se com uma sucessão de cerimônias de caráter alegre: o batismo dos neófitos, a reconciliação dos penitentes, a consagração dos Santos Óleos, o lavatório dos pés e a comemoração da santíssima Eucaristia, e, devido a todas estas cerimônias, o dia recebeu diferentes nomes, todos os quais alude a uma ou outra de suas solenidades.

Chamou-se Redditio symboli porque, antes de ser admitidos ao batismo, os catecúmenos tinham que recitar o Credo de memória, seja em presença do bispo ou de seu representante. 

Pedilavium (lava-pés), rastros do qual encontramos nos ritos mais antigos, que ocorriam em várias igrejas na Quinta-feira Santa, o capitilavium (lavatório da cabeça) que se havia realizado no Domingo de Ramos (Santo Agostinho, “Ep. CXVIII, CXIX”, e. 18).

Exomologesis, e reconciliação dos penitentes: uma carta do Papa Santo Inocêncio I a Decêncio de Gubbio testifica que em Roma era costume na quinta feria Pascha absolver os penitentes de seus pecados mortais e veniais, exceto em casos de enfermidade grave que os mantivesse distantes da igreja (Labbe, “Concilia” II, col. 1247; San Ambrosio, “Ep. XXXIII ad Marcellinam”). Os penitentes participavam da Missa pro reconciliatione paenitentium, e se lhes dava a absolvição antes do ofertório. O “Sacramentário” do Papa Gelásio contém um Ordo agentibus publicam poenitentiam (Muratori, “Liturgia romana vetus”, I, 548-551).

Olei exorcizati confectio. No século V estabeleceu-se o costume de consagrar na Quinta-feira Santa todos os crismais necessários para a unção dos recém batizados. O Comes Hieronymi, os sacramentais gregoriano e gelasiano e a Missa Ambrosiana de Pamélio, todos concordam sobre a confecção do crisma nesse dia, como também o faz o Ordo Romanus I.            

Anniversarium Eucharistiae. A celebração noturna e a dupla oblação logo se converteram em objeto de desagrado cada vez maior, até que em 692 o Concílio de Trullo promulgou uma proibição formal. A celebração eucarística passou a ocorrer então pela manhã, e o bispo reservava parte das espécies sagradas para comunhão do dia seguinte. Missa praesanctificatorum (Muratori, “Liturg. rom. Vetus”, II, 993).

Outras celebrações: na Quinta-feira Santa cessa-se de tocar os sinos, desvela-se o altar depois das vésperas e o ofício noturno se celebra sob o nome de Tenebrae (Ofício das Trevas). 


Fonte:  Leclercq, Henri. “Maundy Thursday.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 10. New York: Robert Appleton Company, 1911. 29 Mar. 2018 <http://www.newadvent.org/cathen/10068a.htm>.

 Traduzido por Leonardo Brum a partir da versão espanhola disponível em <http://ec.aciprensa.com/wiki/Jueves_Santo>.