Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

O Advento

D. Crisóstomo d’Aguiar

Antigamente o Ano Litúrgico começava com o primeiro domingo do Advento, o qual um concílio espanhol (380) considerava, com seus ritos e fórmulas próprias, como preparação para a festa de Natal.

O que predomina durante  estes dias do Advento é uma grande alegria que para os fieis vem da esperança no Salvador que está próximo. Acrescenta-se-lhe certo caráter  de penitência que  algumas leituras, antífonas, responsos, e mesmo o roxo dos paramentos nos ofícios sagrados, inculcam insistentemente.

Devemos imbuir-nos do espírito que animava, na Lei Antiga, o povo escolhido, que esperava o Messias prometido. Acoroçoados pelos profetas a quem Deus falava, faziam os israelitas muito suas as vozes de angústia e de esperança que durante  longos quatro mil anos aqueles não cessavam de elevar  ao Céu: “Vinde! Adoremos o Rei que há de vir!”; e com o povo eleito faziam eco todos os povos sedentos de redenção que clamavam: Vinde Senhor, e não Vos demoreis.

O cristão deve também preparar-se para vinda do Salvador durante as quatro semanas do Advento, que lembram o longo período que precedeu o aparecimento do Messias. Os salmos, hinos e antífonas, ao mesmo tempo que lhe recordam a queda do primeiro homem e o miserando estado em que a humanidade ficou antes do Redentor, traduzem, nos ardentes suspiros dos patriarcas e nas súplicas ansiadas dos profetas, os anseios e esperanças do povo eleito, que somos nós.

Conquanto não celebremos, com a igreja grega, em festa especial, os antepassados de Jesus: Abraão, Isaque, e Jacó, e no quarto domingo, todos os patriarcas desde Adão até São José, todavia a Liturgia latina fala-nos deles, e faz-nos desfilar diante dos olhos o Magnífico cortejo que precedeu Jesus. É Abraão… Jacó… Judá… Moisés… Davi… Miquéias, Jeremias, Ezequiel, Daniel,… É sobretudo Isaías… João Batista, é Maria com São José. Todos suspiram pelo redentor e chamam por Ele com inflamados desejos.

Deus ouviu tão ferventes preces, e, seduzido principalmente dos encantos da Virgem Maria, manda-lhe o Anjo Gabriel que da parte da augusta Trindade lhe vem rogar que consinta no grande mistério da Encarnação; todas as esperanças messiânicas se concentram na extraordinária criatura de cujo Fiat depende a salvação do mundo.

Faça o cristão por se preparar para vinda de Jesus, com esses chamamentos e vozes de profetas e patriarcas a que Deus não pôde resistir, e assim tirará abundantes frutos da consideração deste primeiro aspecto do Advento.

Mas debalde teríamos recebido a Redenção, se a cada um de nós se não aplicasse em particular a vida sobrenatural de que Jesus é fonte inexaurível. Para se nos fazer compreender tão maravilhosa transformação, chama-se geralmente Advento a vinda de Deus a nossas almas. À Igreja cumpre realizar em todos os homens este segundo Advento, e por isso tanto ela se empenha em nos preparar. Leituras, instruções, preces, tudo, neste tempo, visa ao mesmo fim: “Irmãos, são já horas de sair do sono! Fortalecei, Senhor o vosso poder, e vinde!” suspira com os profetas, concentrando ao mesmo tempo a atenção nos conselhos que do deserto nos dirige o último deles, João Batista, clamando: Preparai os caminhos do Senhor, aplanai os atalhos ao nosso Deus!

Quanto mais preparados nos sentirmos para o Advento da misericórdia, mais tranquilos poderemos aguardar o terceiro e último, o Advento da justiça, que há de ser no fim dos tempos: e, “recebendo o filho de Deus quando nos vem resgatar, poderemos igualmente contemplá-lo cheios de confiança quando nos vier julgar” (Oração da Vigília de Natal). Há de vir, então, com efeito, não já, como em Belém, mãos cheias de misericórdias, mas como terrível Juiz dos vivos e mortos, rodeado dos exércitos celestes e, como no-lo descreve o Evangelho do primeiro domingo, no meio da confusão dos elementos desencadeados, com o tremendo aparato, que fará secar os homens de terror. É essa a hora incerta que devemos recear, e para a qual, conforme nos aconselha o Mestre, convém estarmos prontos. Esse convite nos dirige a Igreja, durante estes dias, quando nos faz assistir à cena do último juízo, o qual será terrível para os ímpios, mas cheio de consolação para os justos.

Jesus é, pois, segundo a admirável perspectiva deste tempo do Advento, o centro de toda a história do mundo, que na expectativa da sua vinda de graça e de misericórdia, começa, e com sua vinda de glória  em todo o brilho de majestade soberana termina. O fim da Liturgia é fazer desempenhar a todas as gerações cristãs o seu papel no plano divino…

Aspire cada um de nós, nesta época do ano, com sinceridade, com amor, direi mesmo com santa impaciência, a Jesus, na sua segunda vinda, e, de longe, adore-o como Rei de todos nós: “Vinde adoremos o rei que está para chegar!” Este olhar de amor, de fé, e de esperança, que, pecadores, levantamos para o nosso Redentor, resume, em todos os seus aspectos, o tempo do Advento.